De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o cancro é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade mundiais.
Em Portugal prevê-se que em 2030 o cancro seja causa de 32 mil mortes por ano, representando um aumento de 34,5% em comparação com os 24 mil que morrem actualmente com esta patologia.
A Nutrição assume um papel central no desenvolvimento desta doença, por sua vez, durante a progressão da mesma, os problemas nutricionais decorrentes dos tratamentos e/ou cirurgias podem comprometer uma alimentação adequada, a qualidade de vida, a tolerância aos tratamentos e morbilidade dos doentes.
A quimioterapia e radioterapia podem contribuir para sintomas como alterações no paladar, salivação, mastigação, digestão e absorção dos alimentos, ou náuseas/vómitos, diarreia, obstipação; por isso é fundamental a intervenção nutricional individualizada, precoce e atempada durante todo o percurso dos tratamentos. A terapêutica nutricional é obrigatoriamente adjuvante no tratamento do cancro.
Por outro lado, é transversalmente aceite que um estado nutricional adequado é importante para aumentar a tolerância e capacidade de resposta do organismo ao(s) tratamento(s) e contribuir para uma melhor evolução da doença.
Para além da perda de peso e/ou de massa muscular que os doentes podem desenvolver, de notar que que cada vez mais estudos mostram a importância de manter uma adequada composição corporal (massa muscular e tecido adiposo) de forma a melhor tolerar os tratamentos e para manter a força e capacidade funcional nas actividades diárias.
É hoje considerado evidência a nível internacional que o aconselhamento nutricional individualizado, baseado na prescrição de dietas terapêuticas, é essencial para melhorar o estado geral e nutricional, a ingestão nutricional, para reduzir a toxicidade dos tratamentos anti-neoplásicos e para melhorar a qualidade de vida dos doentes oncológicos.
A Nutrição é uma terapêutica adjuvante essencial e obrigatória. Para ser eficaz, a sua integração tem de ser atempada e precoce no tratamento dos doentes.
Os ensaios clínicos em que fomos pioneiros e que são hoje referências na literatura, demonstraram que a nutrição e os seus objectivos têm de ser delineados e implementados em contexto multidisciplinar, antes do início dos tratamentos, durante e após o seu terminus. Só assim se garante a máxima eficácia dos tratamentos, bem como a maior tolerância e a melhor recuperação dos doentes.
De facto, os resultados a longo prazo destes ensaios clínicos foram publicados este ano, e demonstram que a nutrição adequada durante os tratamentos tem um impacto major mantido na melhoria da qualidade de vida, no estado geral e nutricional, na redução dos sintomas tardios e na sobrevida dos doentes. Estes factos foram de forma pioneira demonstrados pelos nossos estudos, que reflectem anos de experiência na prática da nutrição clínica em oncologia.
Por Paula Ravasco, Professora e Investigadora do Laboratório de Nutrição e Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
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