De fato, tem aumentado o número de mulheres de meia-idade com distúrbios alimentares. Estas são as conclusões dos estudos realizados pela Dra. Cynthia Bulik, reconhecida especialista internacional em distúrbios alimentares e professora na Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos. Ela coordena desde 2003 um programa de prevenção e tratamento de distúrbios alimentares e observa que 70% dos seus pacientes são mulheres e homens com mais de 40 anos. Isto acontece porque, cada vez mais, há uma preocupação com a imagem corporal. É interessante verificar que 75% das mulheres com mais de 50 anos afirmaram que o peso e imagem corporal afetavam a sua autoestima. Ainda que 36% já tinham feito várias dietas nos últimos 5 anos! Este fato aumenta o risco de desenvolvimento da doença, uma vez que se sabe que muitos distúrbios alimentares começam “com a primeira dieta”.

Só que, por outro lado, parece existir um certo desconhecimento desta realidade. Em muitos casos, quando a mulher de meia-idade recorre ao médico de clinica geral, não lhe é diagnosticada esta patologia, uma vez que os distúrbios alimentares ainda se encontram muito associados com algo que “só acontece às adolescentes”.

Porque é que os distúrbios alimentares afetam as pessoas de meia-idade agora?

É importante referir que nos distúrbios alimentares intervém sobretudo duas componentes: os fatores genéticos e os fatores ambientais. Os fatores genéticos representam um fator de risco e constituem uma predisposição para o desenvolvimento da doença. Já os fatores ambientais têm um papel “detonador”, o que significa que, caso exista uma determinada predisposição genética, eles irão desencadear o desenvolvimento da doença.

Então, porquê agora? Acontece que hoje em dia existe uma pressão crescente nas mulheres e homens de meia-idade (sim, também é algo que afeta os homens), para se manterem em boa forma física, tentando contrariar assim o envelhecimento natural dos seus corpos, de modo a que alguém com 50 pareça ter 30 anos, sendo essa “pressão social” um dos principais fatores ambientais no desenvolvimento dos distúrbios alimentares.

Existem ainda outros fatores de risco que propiciam o desenvolvimento da doença. Incluímos aqui acontecimentos como infidelidade, filhos emancipados e já fora do ambiente familiar, perdas afetivas, desemprego, doenças ou cirurgias, reforma. Pensa-se também que a peri-menopausa e menopausa podem contribuir para o desenvolvimento da doença, embora ainda existam muito poucos estudos sobre o impacto destas variáveis. É ainda importante referir que os distúrbios alimentares coexistem geralmente com outras doenças do foro psicológico como a depressão ou a ansiedade.

Como tratar os distúrbios alimentares?

Os distúrbios alimentares são tratáveis, mas os vários subtipos requerem um tratamento diferenciado. Nalguns subtipos de distúrbios alimentares, como a bulimia ou o transtorno da compulsão alimentar periódica, o recurso a medicamentos funciona bem no curto prazo. Mas já a anorexia requer um tratamento inicial de reabilitação e recuperação do peso, pois esse primeiro passo é absolutamente essencial para colocar novamente o cérebro a funcionar. Contudo, para um tratamento de longo prazo, a psicoterapia tem sido escolhida como a ferramenta de eleição no tratamento dos distúrbios alimentares, dado que é hoje a técnica terapêutica que melhores resultados tem apresentado. Já a duração do tratamento é dependente da complexidade do problema a ser tratado.

Como recomendação geral, no tratamento de distúrbios alimentares na meia-idade, deverá procurar a ajuda conjunta de profissionais na área da psiquiatria e psicologia, os quais o poderão aconselhar sobre a melhor abordagem terapêutica para o subtipo de distúrbio alimentar em causa.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

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