A excelência e a qualidade da investigação portuguesa na área da Biologia e Medicina Tropicais esteve patente no workshop realizado esta terça-feira, no Centro de Congressos do Lagoas Park, em Oeiras.

Depois das edições anteriores dedicadas à Agricultura, Silvicultura e Pecuária Tropicais (2010) e Técnicas de Organização e Gestão em Ambiente Tropical (2011) a edição deste ano reuniu alguns dos melhores cérebros portugueses nas áreas da Biologia Molecular e no combate à malária.

Os avanços no combate a esta doença dominaram grande parte das comunicações apresentadas na parte da manhã e à tarde, com destaque para o trabalho de campo desenvolvido no continente africano e na Ásia, bem como em pesquisas de laboratório.

No contexto local, foram abordadas as experiências de algumas missões de emergência (da AMI, no Zimbabué e em Cabo Verde) derivadas de surtos de dengue e malária, bem como de projectos de cooperação com países lusófonos (São Tomé e Príncipe e Moçambique), em áreas da prestação de cuidados de saúde e de controlo de doenças endémicas, como a malária.

Das dezenas de alunos universitários e investigadores presentes na sala do Centro de Congressos vieram algumas perguntas sobre as possibilidades da investigação num contexto de emergência médica. "É difícil", respondeu João Pires, da AMI (Zimbabué e Cabo Verde) "os médicos têm pouco tempo para investigação, para o terreno vai sempre uma equipa multidisciplinar, com enfermeiros, médicos, investigadores; mas os médicos não fazem investigação", disse, "têm pouco tempo para isso e esta deve ser feita com rigor científico e qualitativo."

Para Ahmed Zaky, do Instituto Marquês Valle Flor (que lidera um projecto de prestação de cuidados de saúde em São Tomé e Príncipe) "a investigação num contexto de projecto de desenvolvimento é mais fácil; mas não chega a boa vontade das pessoas, é preciso haver objectivos bem claros para não desvirtuar a investigação", concluiu.

A experiência de cooperação em Moçambique na área da Biodiversidade e Sustentabilidade Ambiental foi apresentada por Luís Goulão, do Instituto da Investigação Científica e Tropical, com destaque para algumas espécies vegetais como o miombo e as florestas de Chafuta.

A quimioterapia da malária (Francisca Lopes, Fac. farmácia na Univ. Lisboa), a investigação e novos fármacos (Maria Mota, Faculdade Medicina Univ. Lisboa) e a avaliação da sua epidemiologia em Cabo Verde (Ana Paula Arez, Centro de Malária e outras Doenças Tropicais) foram temas de outros painéis, onde se ficou a conhecer alguns aspectos dos avanços na investigação portuguesa (também em equipas internacionais) desta doença.

O painel das Doenças Tropicais pôs em evidência algumas experiências no tratamento de doenças como a Leishmaniose, estudos eco-epidemioloógicos e o controlo das doenças, bem como dos seus agentes, das formas de transmissão.

Para a tarde ficaram as Plantas Medicinais e Terapêuticas Tropicais, com destaque para a flora de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, com uma abordagem para o estudo Etnofarmocológico.

Cluster Tecnologias Tropicais o 'Sillicon Valley' de Oeiras?

Para Nuno Manalvo, vice-presidente da AiTECOEIRAS, Agência de Desenvolvimento de Oeiras, entidade promotora do evento, a ideia do Cluster Tecnologias Tropicais tem como objectivo último "recuperar um conhecimento histórico que Portugal e os investigadores portugueses têm nas áreas da investigação tropical e levar esse conhecimento às empresas."

O Cluster pretende "aproveitar a dinâmica destas unidades de conhecimento e levá-las aos empresários e às empresas que se podem instalar no concelho de Oeiras, numa lógica de parceria, juntando as tecnologias de informação e a medicina Tropical."

Apesar de haver muito trabalho "ad-hoc" a ser implementado no terreno por algumas ONG, Nuno Manalvo é da opinião de que "existe um melhor aproveitamento do conhecimento se se conseguir atrair as empresas para junto de investigadores distinguidos internacionalmente, através da amálgama que a AITEC pretende fazer no concelho, tornando-o, assim, numa mais-valia para Oeiras."

"A AITEC pretende que o site eirasvalley.com seja uma plataforma de contacto onde as empresas poderão ter toda a informação do que se vai fazendo no concelho, de forma a haver uma confluência de conhecimewnto e ligação entre o meio empresarial e as universidades."

De acordo com o vice-presidente da agência, "esta primeira fase ainda é o da implementação", mas os objectivos estão definidos: "esperamos ter resultados nos próximos dois, três anos."

30 de maio de 2012

@SAPO