"Conseguimos determinar que as variações das estirpes modernas datam todas de um determinado período no final do Neolítico, no início da Idade do Bronze", explica Christiana Scheib, coautora do estudo publicado na quarta-feira na revista Science Advances.

O vírus da herpes atual teria, portanto, apenas 5.000 anos, uma idade menor do que se imaginava: "É um pouco surpreendente porque se supunha que o herpes co-evoluiu com os humanos por muito tempo", declarou à AFP a especialista em ADN e genética das populações, ligada à Universidade de Cambridge.

Cerca de 3,7 mil milhões de pessoas estão infetadas com o vírus HSV-1 que causa a herpes simples, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No entanto, a história deste vírus e a forma como se espalhou permanecem pouco conhecidas, sobretudo porque é difícil encontrar exemplos antigos.

A equipe de Scheib examinou o ADN dos dentes de centenas de pessoas de antigos achados arqueológicos. Apenas quatro carregavam o vírus da herpes.

No entanto, os seres humanos provavelmente vivem com herpes há muito mais tempo. Pode-se imaginar que uma estirpe anterior provavelmente estava a circular entre os humanos quando eles deixaram África há milhões de anos.  Mas demorou até tempos relativamente recentes para que tomasse a sua forma atual.

Beijo, um suspeito potencial

Como explicar essa mudança? Primeira teoria dos investigadores: há cerca de 5.000 anos atrás, a humanidade estava num período de grande migração da Eurásia para a Europa, e esse movimento poderia ter afetado o vírus.

Outra hipótese: o desenvolvimento da herpes no Neolítico detetado no ADN antigo pode ter coincidido com uma nova prática cultural, o beijo romântico e sexual. "Evidências textuais começam a aparecer na Idade do Bronze sobre beijos românticos", o que pode ter mudado a forma como o vírus se espalhou, de acordo com Christina Scheib.

A primeira menção conhecida do beijo é encontrada num manuscrito do sul da Ásia na Idade do Bronze, sugerindo que a prática pode ter passado para a Europa mais tarde.

O vírus geralmente é passado de pai para filho, mas o beijo teria originado uma nova maneira de transmissão, explica a coautora do estudo.

Beijar "não é uma característica humana universal", diz, apontando para a dificuldade de determinar quando a prática começou ou se está definitivamente ligada à disseminação do HSV-1.

Outra coautora do estudo, Charlotte Houldcroft, também de Cambridge, aponta que um vírus como o do herpes evolui numa escala de tempo muito maior do que um vírus como o da COVID-19.

"O herpes simples esconde-se no seu hospedeiro por toda a vida e é transmitido apenas por contacto oral, então as mutações ocorrem lentamente ao longo de séculos e milénios", explica.