16 de junho de 2014 - 13h44
A urgência médico-cirúrgica (UMC) do Hospital de Mirandela, no distrito de Bragança, “funciona na prática como uma urgência básica”, estando os utentes a pagar mais do que deviam, denunciou hoje a Ordem dos Médicos (OM).
Este “é um erro grave, uma deficiência que urge rapidamente corrigir”, afirmou o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, acrescentando que atual cobrança da taxa moderadora da UMC é “abusiva”.
Em conferência de imprensa para apresentar publicamente um conjunto de denúncias relativas à prestação de cuidados de saúde no distrito de Bragança, Miguel Guimarães criticou o facto de os utentes de Mirandela estarem a pagar, “pelo menos há mais de um ano” mais 2,57 euros do que o que deviam.
A taxa moderadora da UMC é de 18,04 euros, sendo o custo de uma ida a uma urgência básica de 15,47 euros.
A urgência do Hospital de Mirandela, disse, “não está a assegurar as funções para as quais foi classificada”, porque “não tem o número suficiente de cirurgiões e a anestesiologia termina às 24:00”.
Solucionar este problema passará por ou “dotar o hospital com os meios suficientes para, de facto, poder ter uma UMC”, ou desclassificar a urgência para “básica”, o que, na opinião de Miguel Guimarães, “seria a situação pior”.
Adiantando que desde o dia 11, quando foi criado um e-mail na OM do Norte para receber denúncias sobre o Serviço Nacional de Saúde, foram já recebidas 89, algumas das quais “parecem até bastantes graves”, Miguel Guimarães considerou que, no distrito de Bragança, esta diferença de cerca de 2,50 euros pagos a mais pelos utentes de Mirandela deve ser tida em conta.
“O distrito tem que ser acarinhado de forma diferente”, defendeu o responsável, lembrando as distâncias entre concelhos, a dispersão dos núcleos populacionais e a falta de uma rede de transportes públicos com maior capacidade de resposta a estas realidades “específicas”, que obrigam os doentes a recorrerem frequentemente a táxis, podendo o regresso a casa custar 150 euros.

Quanto à possível deslocação do helicóptero do INEM de Macedo de Cavaleiros para Vila Real, o médico não tem dúvidas de que, a concretizar-se, “deixa claramente sem apoio uma das zonas mais periféricas do país”.
Em Vila Real, sublinhou, “poucas vezes levantará”, porque a cidade é frequentemente assolada com “nevoeiros cerrados”.
A OM criticou também o “subfinanciamento crónico da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE)”.
Também as “dificuldades informáticas constantes” no distrito de Bragança foram abordadas esta manhã, com Miguel Guimarães a considerar que se agravaram com “a utilização da Prescrição Eletrónica Médica (PEM)”, porque “os equipamentos informáticos estão desadequados e a largura de banda larga é insuficiente”.
Quanto ao distrito médico de Bragança, disse, “tem os quadros médicos envelhecidos, a maioria dos médicos tem mais de 50 anos, limitados”, sendo que não há “abertura concreta de concursos para colocar os jovens especialistas, formados no próprio distrito e que estão interessados em lá ficar”.
“Faltam objetivamente médicos nas especialidades de neurologia, nefrologia -apenas existe um –, ginecologia e obstetrícia (…), faltam médicos de medicina geral e familiar”, denunciou, acrescentando que, apesar disto, “há vários médicos, de várias áreas, que pediram o acesso ao regime de 40 horas e até agora apenas foi autorizado um” pela administração da ULS.
Segundo Miguel Guimarães, a decisão da OM em apresentar publicamente um conjunto de denúncias surgiu depois do diálogo entre a ordem e o Ministério da Saúde “não ser consequente”.
Por Lusa