O hábito de ouvir música é conhecido pelo seu efeito calmante e por levar à boa disposição, sendo por isso, visto como inofensivo ao Ser Humano. No entanto, o problema não reside na música que se ouve, mas sim na forma ela é ouvida.

Para atenuar e abafar os ruídos circundantes, os jovens recorrem a auscultadores e têm por hábito aumentar bastante o volume, ouvindo música num nível entre os 85 e os 120 decibéis (dB).

No entanto, este último valor é equivalente ao som de um motor de avião em funcionamento ou a um martelo pneumático, por exemplo, sendo que basta ouvi-la durante nove segundos por dia para se correr o risco de perda permanente da audição.

Para além disto, verifica-se ainda um aumento da poluição sonora nas cidades ou mesmo perto dos locais que os jovens e a população em geral costumam frequentar, o que poderá contribuir ainda mais para o risco de perda auditiva e/ou sintomas otológicos associados no âmbito das suas atividades de lazer, para além de outros problemas de saúde que se fazem sentir a curto médio ou longo prazo, com grande impacto na sua qualidade de vida.

A exposição contínua ao ruído e a sons de elevada intensidade, pode resultar na progressiva morte ou lesão, lenta, mas irreversível, das células ciliadas do ouvido interno alojadas no órgão de Corti. Esta perda celular é sensorioneural e irreversível, não tendo as células ciliadas capacidade de regeneração. Poderá também despoletar outros sintomas como por exemplo zumbidos, fadiga, diminuição da eficiência no trabalho por falhas de concentração, alterações do ritmo cardíaco, do sono e da tensão arterial e, por último, stress. Sendo que estes problemas variam de acordo com os limites biológicos e a suscetibilidade de cada indivíduo.

De forma a proteger e preservar a saúde auditiva das gerações mais novas, é necessária a existência de programas de sensibilização que possam explicar de forma adequada às diferentes faixas etárias, quais os comportamentos de risco, as suas consequências e também formas de proteção e reabilitação.

Promovendo também a literacia em saúde, que se define pela” capacidade de tomar decisões fundamentadas, no decurso da vida do dia-a-dia, em casa, na comunidade, no local de trabalho, na utilização de serviços de saúde (...) aumentando o controlo das pessoas sobre a sua saúde, a capacidade para procurar informação e assumir responsabilidades”.

Esta adoção de comportamentos de saúde positivos tem impactos que incluem: melhor estado e redução de custo em saúde, aumento dos conhecimentos em saúde e utilização menos frequente dos cuidados/serviços de saúde, permitindo assim uma menor ocorrência de problemas auditivos gerados pelo mau uso dos auscultadores e menos encargos públicos para o Serviço Nacional de Saúde.

Dicas para uma boa saúde auditiva:

  • Não exceder 70% do volume máximo do dispositivo, durante mais de 60 minutos;
  • Limite de tempo/ realizar pausas de 30 minutos;
  • Respeitar os alertas dados pelos dispositivos sobre o volume demasiado alto;
  • Em espaços com exposição a sons demasiado intensos (concertos, bares, discotecas, bailes, entre outros), usar proteção auditiva (tampões ou protetores auditivos) ou manter-se o mais longe possível das colunas de som;
  • Recorrer ao médico ou a um audiologista sempre que sentir alguma alteração auditiva (perda de audição ou zumbidos).

Um artigo de Bárbara Rocha, estagiária da Licenciatura em Audiologia no Colégio de Gaia, e David Tomé, professor adjunto de Audiologia na Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (ESS-P.Porto).