Em Portugal, cerca de um milhão de pessoas sofre com doenças da tiroide. Ainda que estas doenças tendam a ser mais prevalentes no género feminino, afetam cerca de 200 milhões de pessoas a nível mundial.

Mas que doenças são estas? Em primeiro, é importante compreender o que é a tiroide. Esta é a glândula responsável pela produção e regulação de hormonas importantes para o bem-estar e funcionamento do corpo humano, particularmente para o nosso desenvolvimento e crescimento ao longo da vida. Consequentemente, qualquer disfunção no seu funcionamento provoca sintomas que comprometem o bem-estar físico e psicológico.

Como doenças mais frequentes, destacam-se o hipertiroidismo e o hipotiroidismo. A origem destas patologias remete para fatores genéticos ou para fatores individuais, relacionados com o estilo de vida e alimentação, como o consumo insuficiente ou excessivo de iodo (por exemplo, presente no sal). Estas são, não raras vezes, silenciosas, uma vez que os sintomas podem ser associados ou confundidos com outras perturbações, dificultando um diagnóstico e tratamento precoces. Em alguns casos, estas doenças podem levar à morte.

O hipotiroidismo é resultado de uma produção insuficiente de hormonas da tiroide, provocando uma quebra no metabolismo. Como principais sintomas, surgem os seguintes:

- cansaço extremo, sonolência, falta de energia e motivação;

- redução da líbido;

- aumento de peso, retenção de líquidos, prisão de ventre;

- perda de cabelo e enfraquecimento das unhas;

- sentimentos de tristeza, melancolia e sintomas e/ou o diagnóstico de depressão.

Por oposição, o hipertiroidismo caracteriza-se por uma produção excessiva destas hormonas, o que facilita a existência de uma aceleração das funções naturais do organismo e sintomas como são exemplo os seguintes:

- irritabilidade, ansiedade e hiperatividade;

- palpitações cardíacas, tremores e transpiração excessiva frequente;

- aumento do apetite, mas perda constante e incontrolada de peso;

- insónias e sensação constante de agitação;

- mudanças de humor frequentes.

Naturalmente que estes sintomas e mudanças fisiológicas causam impacto na saúde mental. O aumento do peso e a perda de cabelo, típicos do hipotiroidismo, integram consequências atrozes para a autoestima e bem-estar das mulheres (e homens) que sofrem com esta patologia, facilitando a existência de sentimentos de tristeza e pensamentos autodepreciativos. Por sua vez, a tendencial redução da líbido e a gestão das mudanças na imagem corporal podem prejudicar as dinâmicas íntimas, originando conflitos na relação.

A falta de motivação, energia e cansaço constantes podem gerar dificuldades no contexto laboral, dada a tendencial redução da produtividade. Mais uma vez, surge um risco elevado de sentimentos de inadequação, impotência, tristeza e vazio.

No hipertiroidismo, consequências como a irritabilidade, mudanças de humor frequentes e a vivência de um estado de ansiedade constante também prejudicam as relações interpessoais. As insónias reduzem a disponibilidade para a interação social, assim como os tremores (por exemplo, das mãos) e a transpiração excessiva frequente podem gerar sentimentos de vergonha, facilitando o isolamento social.

Em poucas palavras, no que diz respeito ao impacto psicológico destas doenças, enquanto que a ansiedade está, por norma, associada aos sintomas do hipertiroidismo, os sintomas de depressão são comuns em pessoas que apresentam níveis de hormonas da tiroide inferiores ao considerado normativo, ou seja, ao hipotiroidismo.

Contudo, existem consequências comuns a estes dois distúrbios. Tome-se como exemplo os prejuízos a nível cognitivo, como uma memória deficiente e uma reduzida capacidade de concentração e memória; dores musculares intensas e frequentes, pois as hormonas da tiroide são importantes para o relaxamento muscular; e os ciclos menstruais irregulares, associados a um risco tendencialmente superior de infertilidade. Todos estes elementos são prejudiciais ao bem-estar psicológico, a curto e a longo prazo.

Em ambas as patologias, o seu irreconhecimento pode dificultar o providenciar de apoio pela rede de suporte social. A falta de energia e de motivação da pessoa pode ser interpretada como preguiça ou descuido, reforçando os sentimentos de inadequação, incompreensão e solidão.

Caso se identifique com estes sintomas e sinta um cansaço físico e mental tão intenso que impede o seu bem-estar e/ou funcionamento diário, procure um especialista médico para a realização de diagnóstico. ainda que o tratamento destas doenças possa não ocorrer de forma precoce, poderá beneficiar de ajuda psicológica desde logo. Irá encontrar um espaço seguro para expressar as suas emoções e pensamentos e identificar estratégias para uma gestão mais eficaz das mudanças provocadas no seu autoconceito, nas relações e dinâmicas com terceiros, seja com pessoas próximas ou no contexto laboral. Peça ajuda, não está sozinho(a), é possível recuperar o bem-estar e plenitude.

As explicações são dos psicólogos Sofia Gabriel e Mauro Paulino, da MIND – Instituto de Psicologia Clínica e Forense.