São José, na sua origem judaico-cristã seria o pai adotivo de Jesus Cristo, seu tutor, sendo pelas suas características profissionais um operário carpinteiro, o padroeiro dos trabalhadores e pela sua dedicação à sua família, o padroeiro das famílias. Esta figura religiosa, remete para a religação com um propósito, para um compromisso e representa uma origem solene e metafórica para a história da nova Unidade Local de Saúde de São José.
A história da Saúde em Portugal está intimamente ligada à região de Lisboa, em particular desde o momento em que se lançam as bases de um sistema assistencialista em Portugal, no ano de 1492 por D. João II, que origina o organizar dos hospitais das ordens religiosas num único hospital, o Hospital Real de Todos-os-Santos, que inicia funções em 1502, já sob reinado de D. Manuel I (Simões, 2009).
Apesar de o ensino formal da Medicina ser apenas autorizado na Universidade de Coimbra desde a sua instalação em 1537 (Ferreira, 1989), a arte cirúrgica era verdadeiramente treinada e praticada no Hospital Real de Todos-os-Santos desde o século XV até ao XIX, sendo este o grande formador de cirurgiões em Portugal. Nesta altura os graduados na Universidade dirigiam-se para Lisboa e particularmente para o Hospital de Todos-os-Santos onde a prática cirúrgica era mais desenvolvida e se poderem desenvolver (Carapinheiro, 1993).
No Século XVIII era este Hospital e a Universidade de Coimbra os principais focos dos estudos médico-cirúrgicos nacionais. Após o terramoto de 1755, que deixou o Hospital Real de Todos-os-Santos parcialmente destruído, o Marquês de Pombal determinou a sua transferência para o Colégio de Santo Antão o Novo, originando o Hospital Real de S. José, o que aconteceu em 1975. É aqui que em 1825 é criada a Escola Régia de Cirurgia de Lisboa e em 1836 a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, o que permitiu a equiparação dos diplomas destas Escolas aos da Universidade de Coimbra em 1986 (Carapinheiro, 1993).
Em 1910 o ensino médico passa a estar associado ao Hospital de Santa Marta, sendo criada em 1911 a Faculdade de Medicina de Lisboa, passando este a ser designado como o Hospital Escolar da Faculdade de Medicina de Lisboa.
O Hospital Real de S. José foi reunindo os principais hospitais de Lisboa, agregando o Hospital de S. Lázaro (1841), Rilhafoles (posteriormente denominado de Hospital Dr. Miguel Bombarda – 1948) Desterro (1857), D. Estefânia (1877), Arroios (1892), Santa Marta (1903) e Rêgo (posteriormente denominado de Hospital Dr. Curry Cabral – 1906), sendo no seu conjunto estas entidades chamadas de “Hospital Real de S. José e Anexos” (Mora, 2018). Em 1913, o Hospital Real de S. José e Anexos passam a denominar-se Hospitais Civis de Lisboa, juntando-se a este notável grupo o Hospital de Santo António dos Capuchos em 1928 (Mora, 2018).
Historicamente, foi com o Hospital Real de S. José que se realizaram os primeiros processos de integração horizontal de cuidados de saúde, com uma coordenação e organização comum, que posteriormente deu origem aos Hospitais Civis de Lisboa, ainda recordados e com grande sentido identitário dos profissionais que nestes se formaram durante a sua formação académica e profissional.
Em 1988 dá-se a desagregação do grupo de hospitais que constituíam os Hospital Civis de Lisboa, o legado do Hospital Real de S. José e Annexos, tendo existido agrupamentos, separações e a extinção de algumas das unidades hospitalares que os foram compondo até à agregação de que são alvo em 2007, com o Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, que reagrupou os Hospitais de S. José e Santo António dos Capuchos com os Hospitais D. Estefânia e Santa Marta. Em 2012 são incorporados os Hospitais Dr. Curry Cabral e Maternidade Dr. Alfredo da Costa, recriando parte de uma história que se inicia com o Hospital Real de S. José (Lopes e Almasqué, 2014). Mais recentemente, o grupo passou a designar-se como Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE (Decreto-Lei n.º 61/ 2018, de 3 de Agosto), reforçando a sua competência formativa universitária.
A nova Unidade Local de Saúde de S. José irá incorporar este Centro Hospitalar, o Agrupamento de Centros de Saúde de Lisboa Central, o Centro de Saúde de Sacavém, o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e o Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto. Esta nova Unidade irá criar a patrimonialmente mais rica unidade do país, com um histórico que introduzirá o Instituto Oftalmológico, que em 1889 teve na sua origem o primeiro curso de oftalmologia em Portugal (Bivar, 2012) e o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, com o Hospital Júlio de Matos, com origem em 1942 como um dos mais inovadores à época.
Além das Unidades Hospitalares, a união com os Cuidados de Saúde Primários da região que estive na génese das reformas de cuidados de saúde em proximidade e na própria criação do conceito de Centro de Saúde, traz uma responsabilidade acrescida de respeitar uma mudança e inovar para criar a referência nacional nesta área.
O Centro Social e de Saúde de Lisboa D. Sophia Abecassis criado em 1939 na região da freguesia da Pena, foi o piloto para a primeira experiência de Centros de Saúde com um conceito moderno que visava o estudo das normas de trabalho para o ambiente, para as reações psicológicas da população e dos problemas sanitários locais, a trabalhar a educação em saúde para reduzir a morbilidade e mortalidade evitável e contribuir para o ensino médico, de enfermagem e sanitário. Esta experiência, que durou 10 anos foi pioneira e pode ter estado associada aos conceitos posteriormente assumidos com a reforma de Gonçalves Ferreira, definida no Decreto-Lei nº 413/71, de 27 de Setembro (Mendes, 2009).
Reconhecendo a importância da história e o que esta transmite entre gerações, a Unidade Local de Saúde de São José será a agregadora de competências dos seus profissionais que perseguem o legado de uma organização viva que fez, faz e fará história na Saúde em Portugal.
São José é um nome indissociável para a inovação, nos modelos de cuidar, na cultura e na disponibilidade permanente para os utentes numa experiência prática sempre dedicada à evolução técnico-científica e centrada no cidadão.
Esta é uma história que se pretende continuar numa Unidade em que as sinergias darão a capacidade para mais uma vez inovar e unir todas as suas Pessoas em torno de um trabalho dedicado à Saúde dos cidadãos e das suas famílias, em ligação com as comunidades e parceiros locais num conceito de uma Saúde unificadora e integrada em que todos contam.
Este é a força da História que está nas Pessoas que representam a nossa ULS. Bem-vindos a São José!
Referências:
• BÍVAR, F. O Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto como marco da moderna Oftalmologia Portuguesa. Oftalmologia (2012). 36(2): 187-189.
• CARAPINHEIRO, G. Saberes e Poderes no Hospital – Uma Sociologia dos Serviços Hospitalares. Porto: Edições Afrontamento, 1993.
• DECRETO-LEI nº 413/71. Diário do Governo Iª Série. (1971-09-27) 228.
• DECRETO-LEI nº 61/ 2018. Diário da República Iª Série. (2018-08-03) 149.
• FERREIRA, F. A. G. Sistemas de Saúde e seu Funcionamento. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
• LOPES, L. & ALMASQUÉ, I. Para a História da Oftalmologia nos Hospitais Civis de Lisboa (1894-2014). Loures: Théa Portugal, 2014.
• MENDES, J.T. Centro de Saúde de Lisboa – Notas Históricas. Acta Pediátrica Portuguesa (2009). 40(4):189-93 60-66.
• MORA, L.D. A Sociedade Médica dos Hospitais Civis de Lisboa. Lisboa: Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, 2018.
• SIMÕES, J. – Retrato Político da Saúde – Dependência do Percurso e Inovação em Saúde: Da Ideologia ao Desempenho. 2ª Ed. Coimbra: Almedina, 2009.
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