O presidente da Liga Portuguesa contra a Epilepsia (LPcE) assinalou hoje uma “pequena revolução” na abordagem clínica da doença, traduzida em preocupações simultâneas com patologias associadas “que antigamente não se viam como um todo”.
Em declarações à agência Lusa, Francisco Sales explicou que se trata de patologias com reflexos graves ao nível da personalidade e dos afetos, que vão ser discutidas no sábado, em Lisboa, no Fórum BIAL de Neurologia 2011.
“É preciso olhar para a epilepsia, não como uma doença homogénea, mas como um contínuo de coisas. De um lado do espectro, podemos ter uma pessoa que apenas tem epilepsia e que, de resto, faz a sua vida completamente normal. Mas, no outro lado do espectro, temos doentes altamente incapacitados, muitas vezes institucionalizados, e com epilepsia no contexto de uma doença muito mais grave”, sublinhou.
Para o fórum de Lisboa, o presidente da LPcE perspetiva não só um aprofundamento desta questão específica, mas também outras abordagens científicas “de vanguarda” sobre a doença, como “uma procura de novas causas para a epilepsia”.
No evento estará a investigadora Anne Berg, do Centro de Epilepsia Infantil do Memorial Hospital, em Chicago, autora de estudos indicativos de que os portadores de epilepsia apresentam taxas mais elevadas de défice cognitivo, de perturbações comportamentais e psiquiátricas, de morte repentina e/ou suicídio.
Os seus estudos indicam ainda que os epiléticos podem ter menor rendimento escolar e profissional e até mais insucesso no casamento.
A epilepsia afeta em Portugal 50.000 a 60.000 pessoas e por cada 100.000 habitantes surgem, anualmente, 50 novos doentes.
“São taxas relativamente altas e por isso é que a epilepsia é das doenças crónicas mais frequentes, afetando o sistema nervoso central. É a terceira causa de doença crónica mais frequente em todo o mundo”, sublinhou o presidente da LPcE.
Nas suas declarações à Lusa, Francisco Sales salientou que cerca de 60 a 70 por cento dos epiléticos “respondem bem à medicação” e realçou que os fármacos para a doença têm registado uma grande evolução, apresentando hoje “menos efeitos secundários e sendo mais fáceis de administrar”.
Neste campo, salientou o contributo da indústria farmacêutica portuguesa que em 2009 lançou no mercado um novo antiepilético, o primeiro medicamento de patente nacional, já comercializado em vários países europeus.
“Congratulo-me com o desenvolvimento deste novo fármaco para a epilepsia. É uma coisa histórica em Portugal”, realçou.
Francisco Sales alertou, por outro lado, para a necessidade de se confirmar na prática a preocupação do legislador em excluir os fármacos para portadores de doenças crónicas da prescrição por Denominação Comum Internacional (DCI).
A proposta de lei do Governo para prescrição de medicamentos por DCI aguarda discussão na especialidade depois de ter sido aprovada pelos deputados, na generalidade, em 28 de outubro.
“Nada teremos a objetar [ao quadro legal que está a ser ultimado] desde que haja uma forma correta de monitorizar no terreno aquilo que está escrito na lei e também se o INFARMED – Autoridade do Medicamento considerar que estes fármacos para a epilepsia são de índice terapêutico de margem bastante estreita”, disse o presidente da LPcE.
18 de novembro de 2011
@Lusa
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