Em declarações à Lusa, Gabriela Sousa, da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), explicou que este programa se irá desenvolver em diversas vertentes, uma das quais a definição de critérios “para que haja uma uniformização da prática clínica nos doentes com cancro que necessitam de testes genéticos”.

Além da publicação dos requisitos mínimos para teste genético em 2021 e de linhas orientadoras de atuação para cada síndrome hereditário, terá ainda uma vertente de formação dirigida a médicos não geneticistas (‘e-learning’) de modo a “reforçar competências específicas”.

Gabriela Sousa, que pertence ao Grupo de Trabalho dedicado ao Cancro Hereditário da SPO, explicou que a intenção é “estimular a formação de médicos não geneticistas e sensibilizá-los para a área da genética e para a importância que isso tem na atividade assistencial aos doentes com cancro”.

“Vamos incluir neste programa algumas ações de formação e, desde logo, um ‘mini e-learning’ (…) sobretudo em síndrome do cancro da mama e ovário, um dos mais frequentes e que acaba por ter mais impacto na prática clínica diária dos centros de oncologia”, adiantou.

A especialista referiu ainda o lançamento de um prémio anual de 25.000 euros na área do cancro hereditário, para estimular a investigação. O vencedor será anunciado no Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Oncologia, em novembro.

No âmbito do PROGO, a SPO lança igualmente um portal informativo e educativo com informação para doentes e familiares com o intuito de aumentar a literacia da população e potenciar a capacidade de participação dos utentes no seu processo terapêutico.

O portal terá informação sobre as várias síndromes hereditárias, sendo que aqueles que mais preocupação trazem são as síndromes hereditárias mama-ovário e as ligadas ao cancro colorretal.

“As outras são síndromes mais raras, mas nós também os contemplámos para que, num documento abrangente, possam ficar definidas as orientações para todas. Contudo, estas duas grandes áreas parecem-nos as mais relevantes”, explicou.

“É um portal que está construído para que as pessoas possam obter informação cientificamente validada. Tem uma área com as várias síndromes e outra dirigida aos profissionais, com os critérios para teste genético por síndrome, como referenciar doentes para consultas de oncogenética, quando e como se pode fazer”, acrescentou.

Gabriela Sousa sublinhou a importância de aumentar a literacia da população nesta área, disponibilizando informação fidedigna de forma simples.

“Queremos que as pessoas possam tomar as suas decisões de uma forma informada e queremos contribuir parta o aumento da literacia, numa área que está tão dispersa, e tão espartilhada, de acordo com as áreas que tratam cada um destas síndromes”, afirmou.

A especialista, que trabalha no Instituto Português de Oncologia de Coimbra, disse ainda que este trabalho resultou de “uma junção de vontades entre várias especialidades” e que tem o apoio de diversas sociedades científicas.

“Se durante tantos anos nós dizíamos que não tinha impacto para a pessoa que já sofreu a doença, que o impacto genético era sobretudo para os seus familiares, hoje em dia não é assim porque (…) há medicamentos que, de facto, podem fazer bastante diferença na vida das pessoas que lutam contra a doença avançada relacionada com alterações genéticas germinativas”, afirmou a especialista.

Para a oncologista, o teste genético “poderá dar importante informação sobre a causa do cancro com impacto na decisão do tratamento e também ajudar os familiares saudáveis de doentes com cancro, sobretudo na estimativa do risco de poder vir a ter doença e na oportunidade de decidir medidas redutoras de risco”.

O PROGO visa ainda a criação de uma estrutura nacional necessária para uma organização em rede, permitindo uma melhor integração de Portugal na Rede de Referenciação Europeia.

“Estamos a trabalhar em articulação com a Rede Europeia de Referência sobre Síndromes Genéticos ligados ao cancro (ERN-GENTURIS), e este portal servirá como plataforma para a divulgação das ‘guidelines’ mais recentes, incluindo as desenvolvidas e aceites a nível europeu” explicou, por seu lado, a coordenadora nacional da Rede Europeia de Referenciação, Carla Oliveira, Investigadora no I3s.