Em declarações à Lusa a propósito do Fórum Equidade e Acessibilidade na era covid-19, que a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) organiza na sexta-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o presidente da SPC, Lino Gonçalves, considerou que “tudo está em cima da mesa” e que a estratégia pode envolver a atividade adicional, o trabalho em horas extra, o recurso a acordos com privados, a contratação de mais pessoal e a telesaúde.
O responsável sublinhou igualmente a importância de promover de forma continuada campanhas de literacia em saúde cardiovascular: “A cada ano que passa entra uma nova geração de pessoas não literadas. [As campanhas] têm de ser feitas todos os anos, de uma forma persistente e resiliente, entre profissionais de saúde e meios de comunicação social”.
Lino Gonçalves refere que mesmo a pandemia trouxe oportunidades, como o estímulo na telemedicina e na telemonitorização, mas alerta que “nem todos os doentes podem ser acompanhados à distância”.
“Alguns centros nacionais já estavam a fazer [telemonitirização] em doentes cardiovasculares, mas a um nível muito baixo. Aprendemos agora, com este estímulo, que estas são tecnologias muito importantes, vão manter-se para o futuro, mas não são para todos os doentes”, afirmou.
O especialista considera que a chave será saber selecionar quais os doentes que podem ser seguidos à distância: “Tem de haver seleção (…) porque também existe um segmento da população ainda não literada o suficiente e isso é um fator de assimetria”.
“Também há situações cardiovasculares que não podem ser seguidas a distância”, acrescentou, sublinhando que cabe “aos profissionais de saúde identificar quem pode ser seguido à distância e quem tem de recorrer às unidades hospitalares”.
Depois de passados os momentos críticos da pandemia, “em que os doentes agudos enfrentaram algumas dificuldades para chegar atempadamente aos tratamentos”, o presidente da SPC defende que é preciso focar a atenção nos doentes crónicos e em reduzir as listas de espera.
“Chamámos um painel de peritos com muita experiência nestas áreas para nos ajudar a encontrar caminhos para o futuro”, afirmou, a propósito do encontro de sexta-feira promovido pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
No encontro, diversos especialistas abordarão o impacto da pandemia no tratamento dos doentes com síndrome coronário agudo, a importância da literacia em saúde cardiovascular como ferramenta para o diagnóstico e tratamento atempado e as estratégias a seguir para recuperar as listas de espera no tratamento das doenças cardiovasculares na era pós covid-19.
“É uma ocasião privilegiada para apontar caminhos. É preciso desenvolver estratégias. Pode-se tentar recuperar através de horas extra, mas os profissionais de saúde já estão esgotados. Pode ser pela produção adicional, contratando mais recursos humanos, com acordos com privados… tudo está em cima da mesa”, considerou o especialista, lembrando: “Nunca vai existir uma solução perfeita”.
O responsável insistiu ainda na importância da literacia: “É absolutamente crítico. Na Europa ocidental e nos EUA já foram feitos estudos e mais de 50% da população tem níveis de literacia em saúde muito baixos. É preciso aumentar. E isso tem de ser feito de forma continuada, não pode ser com uma campanha uma vez por ano”.
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