“O Serviço Nacional de Saúde (SNS) já esperou o suficiente e não pode esperar mais”, defendeu Joana Bordalo e Sá, em declarações aos jornalistas, durante uma concentração organizada pela FNAM, que juntou em frente ao Ministério da Saúde mais de uma centena de médicos.
Os médicos, que cumpriram ontem o primeiro de dois dias de greve, contestam a proposta do Governo de valorização da carreira, apresentada aos sindicatos na semana passada, no âmbito das negociações que se iniciaram ainda em 2022.
“Tendo em conta a proposta absolutamente inaceitável que nos entregaram, vamos entregar os princípios para uma contraproposta que sirva os médicos, mas, acima de tudo, que sirva os utentes e os doentes do SNS”, explicou a dirigente sindical.
A contraproposta da Federação reivindica aumentos que compensem a perda de poder de compra dos médicos na última década, um horário semanal de 35 horas, a reposição das 12 horas em serviço de urgência e do regime majorado da dedicação exclusiva e a integração dos internos no primeiro grau da carreia.
“Reivindicamos melhores condições de trabalho. Não podemos continuar a fazer 18 horas de urgência e não termos médicos suficientes para fazer as consultas e as cirurgias que os doentes precisam”, sublinhou.
A propósito da proposta do Governo, Joana Bordalo e Sá rejeita também o acréscimo do limite de horas extraordinárias das atuais 150 para 300 por ano, que diz equivalerem a mais quatro meses de trabalho por ano em comparação com os restantes trabalhadores.
Durante o protesto, que se prolongou por mais de uma hora, os médicos gritaram palavras de ordem que refletiam as suas reivindicações, mas também a necessidade de “salvar o SNS”, como “A saúde é um direito, sem ela nada feito” ou ”O povo merece o SNS”.
“Ou os profissionais de saúde estão motivados, ou não conseguimos estancar esta sangria de profissionais de saúde. Os médicos não estão a querer ficar no SNS e os que cá estão não conseguem aguentar o SNS sozinhos”, relatou Ana Gomes, médica de família há 12 anos.
O retrato também já é familiar a João Silva, médico de formação geral e que, apesar de ter começado a trabalhar apenas no início do ano, já se apercebeu “como as coisas estão mal com a carreira médica e com o SNS”.
“Vemos os médicos a trabalhar muitas horas e parece sempre que somos poucos”, disse, em declarações à Lusa, considerando que o cenário acaba por afastar muitos jovens médicos do SNS e do país.
Na próxima semana, em 09 de agosto, o ministro da Saúde volta a receber os sindicatos dos médicos, tendo ficado agendadas duas reuniões, uma focada no decreto-lei que permitirá a generalização das USF modelo B e outra da mesa negocial.
Acusando o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, de “falta de competência, diligência e vontade para resolver o problema dos médicos e do SNS”, Joana Bordalo e Sá insistiu que o impasse na negociação com o Governo, iniciada ainda no ano passado, exige um mediador independente e externo para conduzir as negociações.
“Não queremos mais reuniões, não queremos prolongar mais esta situação, queremos resolver de forma célere”, sustentou.
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