Na carta aberta, que será entregue hoje aos destinatários, o SIM afirma que o Governo “despreza os médicos portugueses porque não está a aproveitar a disponibilidade e paciência dos sindicatos médicos e os seus esforços para evitarem maior prejuízo à saúde dos portugueses”.
“O Governo português despreza médicos do SNS que perderam 23% do seu poder de compra afastando as remunerações ainda mais do praticado nos restantes países da União Europeia, numa altura em que o salário mínimo em Portugal já é superior a metade salário líquido de um médico no início de funções”, lê-se na carta assinada pelo secretário-geral do SIM, Roque da Cunha.
Despreza os médicos porque “se recusa a valorizar o trabalho recusando concursos para Assistente Graduado Sénior, deixando o topo da carreira depauperado de centenas entretanto reformados”, mas também porque “se recusa a diminuir a carga de trabalho em Serviço de Urgência fazendo aumentar a lista de espera para consultas e cirurgias” e aumentar “exponencialmente as transferências para o setor privado e social”.
O sindicato lembra que nos últimos meses tem sido público o apreço que os governos e instituições dos países mais evoluídos do mundo têm pela qualidade da formação dos médicos portugueses, com notícias de propostas salariais duas três e quatro vezes superiores às praticadas em Portugal.
“Essa formação altamente exigente dos especialistas médicos não resulta da simples frequência de uma universidade, sendo acrescida de cinco a sete anos exigentes de um internato médico com entradas restringidas e determinadas pelas necessidades expressas pelo Ministério da Saúde, com avaliação contínua e anual exigente por júris médicos, e que culmina com complicadas provas de avaliação final”, sublinha.
Para o sindicato, qualquer Estado deve “investir bem e com sustentabilidade na qualificação da sua população de modo a assegurar o indispensável retorno em termos de desenvolvimento social e económico do país”.
Mas, “ao invés de aliciar e motivar os médicos do SNS”, a ministra da Saúde, Marta Temido, “tenta colocar a opinião pública e outros profissionais contra os médicos como ocorreu na entrevista na TVI de 04 de março tentando esconder que em Portugal depois do final da austeridade nunca se investiu tão pouco na saúde… até no tempo da troika se investiu mais”, crítica.
O SIM contraria as declarações da ministra afirmando, citando dados oficiais, que as listas de espera são as maiores e mais longas de sempre e que “a promessa de médicos de família para todos” está “muito longe”.
“Mais baixo investimento de sempre, dados do Tribunal de Contas”, “maior número de cirurgias de sempre para o privado, maior volume financeiro pagos a prestadores (cerca de 110 milhões de euros)” e “insatisfação crescente de todos os profissionais de saúde” são outras situações apontada no documento.
“Perante isto, o que faz o Governo português para além de tapar o sol com a peneira”, questiona o Sindicato Independente dos Médicos.
Lamenta ainda que Marta Temido “responda ao problema da emigração de médicos tentando desvalorizar as propostas e colocando os profissionais uns contra os outros, quando na verdade todos têm motivos para estar descontentes”.
“No Carnaval ninguém leva a mal mas o SIM e os médicos portugueses levam a mal – e muito a mal – este desrespeito e falsidades que empurram os médicos para greves que não queremos e aumentam a instabilidade num setor que a dispensa, pois estamos a falar da saúde dos portugueses... Temos tido paciência infinita”, sublinha.
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