HealthNews (HN)- “A estratégia para os próximos dois anos assentará em três pilares fundamentais: formação, investigação e relações nacionais, internacionais e com a tutela”, afirmou no início do atual mandato. Mais concretamente, o que é a direção do biénio 2023-2025 pretende concretizar nestes três eixos?
Rita Calé Theotónio (RCT) – A direção do atual biénio tomou posse no Congresso Português de Cardiologia de 2023 e tem procurado concretizar alguns dos projetos já desenhados na anterior direção, mas também lançar alguns projetos novos. O primeiro pilar que constitui uma das principais missões da APIC enquanto associação é contribuir para a formação dos profissionais de saúde na área da Cardiologia de Intervenção. Para isso, abrimos recentemente a candidatura para bolsas de Formação Internacional da APIC, que proporcionará uma oportunidade de formação num laboratório fora de Portugal, contribuindo assim para a formação da nova geração de cardiologistas de intervenção. Pretendemos também lançar um programa de simulação (Simul@APIC) que crie momentos de aprendizagem de técnicas de intervenção na área coronária e estrutural com recurso a simuladores.
Já lançámos o Club@APIC, que é uma iniciativa que ocorre mensalmente, na primeira quinta-feira de cada mês, com o objetivo de promover a atualização e partilha de conhecimento científico e técnico através da discussão de casos clínicos ou artigos científicos.
Manteremos os “Day at the cath lab”, que são dias passados num laboratório de hemodinâmica nacional e que proporcionam a partilha de conhecimento em procedimentos inovadores ou complexos.
Manteremos a atribuição de bolsas para a realização do Exame de Certificação Europeia em Cardiologia de Intervenção.
E, claro, não podemos esquecer o trabalho desenvolvido para organizar as Reuniões Anuais da APIC e VaP-APIC, que são momentos únicos de formação e convívio entre a comunidade científica.
Acreditamos que a transmissão de conhecimento para os jovens cardiologistas e a partilha de experiência entre centros é fundamental para manter e elevar a qualidade da Cardiologia de Intervenção Nacional.
Acreditamos que é a qualidade do nosso trabalho e a forma de o comunicar que ajudará a manter as estreitas e profícuas relações com sociedades congéneres com áreas de interesse comum e com a Sociedade Europeia de Cardiologia de Intervenção (EAPCI).
O pilar da investigação é um trilho que temos de percorrer e que tem ainda diversas barreiras a nível nacional, sobretudo porque há falta de financiamento e burocracia. O Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção (RNCI), que tem o Prof. Dr. André Luz como coordenador, será uma das nossas prioridades.
HN – Que tipo de trabalho permitirá “incutir dinamismo” ao Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção?
RCT – O nosso RNCI é dinâmico desde a sua criação. Tem havido um esforço das sucessivas direções na melhoria contínua do RNCI. E atualmente ele possui uma quantidade muito significativa de dados consecutivos de intervenção percutânea coronária e, mais recentemente, estrutural. São dados com uma cobertura nacional e a sua coleção é fruto do trabalho dos centros de cardiologia de intervenção nacionais públicos e privados.
Esses dados podem ser úteis para análises de benchmarking a nível nacional e com outros países e podem ajudar na formulação de políticas públicas. A atual direção considera prioritário melhorar a taxa de preenchimento de variáveis relacionadas com o tratamento do enfarte agudo do miocárdio por este possuir métricas de qualidade que devem ser monitorizadas.
HN – Quais são as prioridades este ano?
RCT – A formação e o RNCI são as nossas prioridades para este ano. Recentemente, também foi uma prioridade participar na terceira edição do Survey do ATLAS de Cardiologia de Intervenção da Sociedade Europeia de Cardiologia, que reúne dados de vários países com os procedimentos e recursos em saúde nas áreas da intervenção coronária e estrutural.
HN – Atualmente, quais são os principais desafios da Cardiologia de Intervenção em Portugal e como é que a APIC pode fazer a diferença?
RCT – A Cardiologia de Intervenção tem evoluído muito na última década, sobretudo no tratamento do enfarte agudo do miocárdio. Em 2010, tínhamos menos de 200 angioplastias primárias por milhão de habitantes e, em 2022, já atingimos mais de 350 por milhão de habitantes, com uma cobertura praticamente nacional, faltando apenas a cobertura da região Interior Centro do país. A abertura de um laboratório de hemodinâmica nessa zona do país será um importante passo para garantir a universalidade do acesso a esta terapêutica que tem um impacto enorme na morbimortalidade.
Outro desafio para os próximos anos e que não depende só dos cardiologistas de intervenção, mas também da tutela, será o de garantir a equidade de acesso atempado a técnicas de intervenção estrutural, nomeadamente à intervenção valvular aórtica (TAVI). É uma área de intervenção onde é absolutamente necessário assistir a um crescimento, de forma a minimizar o risco de mortalidade em lista de espera. Cabe aos cardiologistas de intervenção e aos centros de referência nesta área proporcionar formação, transmitir conhecimento e experiência, de forma que outros operadores/centros possam também realizar este tipo de intervenções com segurança para o doente.
HN – O programa da 14.ª Reunião Anual da APIC, de 9 a 11 de novembro, já foi divulgado. Quais são os temas em destaque? Terá novidades?
RCT – A Reunião Anual da APIC será presidida pelo Dr. Pedro Jerónimo de Sousa, que em conjunto com a comissão organizadora tem trabalhado ao longo destes últimos meses num programa científico abrangente e que inclui todas as áreas da Intervenção Cardiovascular.
Algumas sessões serão partilhadas com outras sociedades científicas, como a Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC) e Comité de Jovens da Sociedade Europeia de Cardiologia de Intervenção (EAPCI).
Mas terá mais novidades!
HN – O sucesso da reunião depende de que fatores? E o sucesso da sua liderança?
RCT – O sucesso de uma reunião como esta, com abrangência nacional, depende sempre da participação e do comprometimento de todos os que participam.
Eu diria que o sucesso de qualquer liderança depende do trabalho de uma equipa e de conseguir dinamizar e motivar as pessoas que trabalham connosco para desenvolverem projetos que se enquadram na missão da nossa Associação.
Entrevista de Rita Antunes
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