O Ciclo de Conferências «Diabetes Século XXI: O Desafio» arranca já hoje, com a primeira a debruçar-se sobre o tema «As Geografias da Diabetes: As Desigualdades Sociais e o Risco de Morte por Diabetes». Paula Santana, especialista da geografia da saúde e do planeamento urbano sustentável, será a oradora principal.

Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de diabetes. A incidência cresce a um ritmo alarmante, e a doença atinge cerca de um milhão de pessoas. Para travar esta tendência, é fundamental compreender cada vez melhor a patologia, não só no que à medicina concerne, mas também, e muito importante, no que diz respeito aos contextos sociais e geográficos em que se desenvolve.

A mortalidade por diabetes em Portugal apresenta um padrão geográfico marcado pela assimetria Litoral-interior. Este padrão tem vindo a intensificar-se ao longo dos últimos vinte anos, ou seja, entre 1989 e1993 os valores mais elevados de Razão Padronizada de Mortalidade suavizada (RPMs) para a diabetes encontram-se no Litoral mas, em 2006-2010, é no Interior, nomeadamente na região do Alentejo e na Beira Interior Sul, que a mortalidade é superior.

O risco de morrer por diabetes entre 2006 e 2010 é, assim, elevado nas regiões do Alentejo, Beira Interior Sul, Oeste, Médio Tejo e Lezíria, estando principalmente associado a áreas de maior envelhecimento populacional, ruralidade e, potencialmente, com menor acesso aos cuidados de saúde.

Ao longo dos últimos vinte anos verificou-se que 72,1% dos municípios do continente pioraram os valores de mortalidade por diabetes, padronizada pela idade.

O risco relativo de mortalidade por diabetes cresce com o aumento da vulnerabilidade associada às condições sociais e económicas da área de residência. A diabetes, particularmente a tipo 2, tem vindo a revelar-se como uma patologia associada a grupos socioeconómicos mais desfavorecidos, sendo a sua prevalência mais elevada em indivíduos em contextos de privação socio material, como a baixa escolaridade, desemprego, condições de habitação precárias, com baixos rendimentos, praticando estilos de vida pouco saudáveis, ou com dificuldades de acesso aos cuidados de saúde.

Neste sentido, os fatores de risco mais importantes para a incidência da doença relacionam-se na sua maioria com ambientes obesogénicos: excesso de peso e obesidade, dietas sobre-energéticas, inatividade física e consumo de tabaco são considerados determinantes sociais da diabetes.

Esta ligação entre a obesidade e a prevalência da diabetes, associada ao envelhecimento da população, é um dos elementos que pode explicar o crescimento da doença em Portugal, se tivermos em conta que entre 1996 e 2006 há um imenso crescimento de obesos e pessoas com excesso de peso no país: mais 55,5% de homens e mais 45,7% de mulheres.

Também significativo é o facto de Portugal continuar a apresentar valores de sedentarismo elevados e superiores à média europeia, sendo a prática de atividade física um dos melhores métodos de prevenir e controlar a diabetes.

O Ciclo de Conferências «Diabetes Século XXI: O Desafio» é uma iniciativa do Programa Nacional para a Diabetes e da Direção Geral da Saúde.

11 de dezembro de 2012

@SAPO