Em declarações à Lusa, o docente David Tavares explicou que o tratamento dos resultados do inquérito ainda se encontra em fase preliminar, mas já permitiu detetar grandes tendências deste novo tipo de emigrante, para além do peso, recente, da emigração nas saídas profissionais.

Aliás, David Tavares lembrou que o primeiro estudo sobre a inserção profissional dos recém-diplomados da Escola é de 2008/09 e que “a questão da emigração não se colocava na altura”.

O trabalho de campo do inquérito foi realizado no último trimestre de 2015 e cobriu 374 diplomados, tendo registado uma percentagem de respostas de 80%, destacou Tavares, que é professor coordenador na ESTeSL, onde leciona Sociologia da Saúde.

O estudo identificou que a maior parte destes emigrantes nas ilhas britânicas está colocada no serviço nacional de saúde e que a saída para o estrangeiro lhe apareceu como solução de recurso.

Outro traço relevante apurado foi o de as colocações no Reino Unido terem resultado, de forma predominante, de resposta a concursos, e não do recurso a redes de contactos pessoais.

Aliás, a qualidade destes cursos portugueses motiva deslocações de recrutadores potenciais aos politécnicos para promover destinos, como o Reino Unido, salientou David Tavares, que já foi presidente do Conselho Científico da ESTeSL e consultor da ONU.

O inquérito permitiu ainda identificar uma estabilização superior nos vínculos profissionais destes emigrantes em relação aos que ficaram em Portugal, uma vez que 60% daqueles têm contrato por tempo indeterminado, o que compara com 25% do universo total de licenciados.

Da mesma forma, 50% dos emigrantes estão ‘muito satisfeitos’ com a sua situação profissional, contra 24% do conjunto, o que lhes permite começarem a apontar para projetos profissionais de médio prazo, como ‘aumentar a formação’ (47% entre os emigrados; 25% entre os que ficaram) e ‘progredir na carreira’, com valores respetivos de 37% e 25%.

Esta satisfação é também baseada no entendimento de que a função desempenhada é a mais adequada à formação escolar, com 87% dos emigrados a considerarem as suas funções totalmente adequadas ao curso tirado, bem acima da média global de 48%.

Em termos remuneratórios, mesmo relativizando com o nível de vida, 80% dos colocados no Reino Unido ganham mais do equivalente a 1.500 euros líquidos, uma realidade distante da portuguesa, concluiu David Tavares, que acaba de publicar o livro “Introdução à Sociologia da Saúde” e coordena esta área temática na Associação Portuguesa de Sociologia.

A Lusa e o Observatório da Emigração vão organizar o seminário de formação “Indicadores da Emigração”, destinado a jornalistas. A iniciativa vai decorrer na segunda-feira, dia 04 de Abril, entre as 09:00 e as 13:00, nas instalações da Agência em Lisboa.