“Há muitas coisas que podem ser feitas, nomeadamente no que diz respeito ao apoio domiciliário. Nós aqui, em Coimbra, fizemos uma pesquisa pelas juntas de freguesia para verificar se têm dados sobre as pessoas que vivem sozinhas, porque no meio rural é mais fácil”, afirmou Maria do Rosário Gama em entrevista à agência Lusa.

De acordo com a dirigente da Apre, no meio rural é mais fácil identificar situações de isolamento, devido à intervenção da GNR.

“Nas juntas de freguesia em Coimbra, chegámos à conclusão que não sabem qual é o número de pessoas que vivem sós e nós achamos que isso é importante, porque as juntas têm um papel importante a desempenhar”, sublinhou.

De acordo com números hoje divulgados pela base de dados estatísticos Pordata, mais de meio milhão de idosos vivem sozinhos. Para Maria do Rosário Gama, uma das medidas “mais importantes” no acompanhamento destas pessoas, muitas das quais vivem nas cidades, seria as juntas de freguesia promoverem o levantamento das situações e serem prestados serviços de apoio social e domiciliário em função das necessiaddes de uma população cada vez mais crescente.

“Esta situação agravou-se com a pandemia”, disse a dirigente da Apre: “As pessoas ficaram mais tempo em casa e esta situação de isolamento agravou-se. Há que criar estruturas, de preferência nas autarquias, onde a população mais velha que vive sozinha se possa dirigir e a Junta de Freguesia dirigir-se às pessoas que identificou, de modo a haver apoio”.

“Neste momento, há muitas situações em que é necessário, por exemplo, o recurso à internet. Estou a pensar em pessoas que não sabem nada de informática, são infoexcluídas. Quem vive com a família ou quem tem netos, tem a possibilidade de resolver isso, quem vive sozinho não tem. Portanto, as autarquias têm um papel importante para quem está sozinho”, referiu.

Segundo a Pordata, sete em cada 10 pessoas com 65 ou mais anos, têm, no máximo, o ensino primário. Menos de metade usa regularmente a internet.

A Apre apresentou um vasto caderno de medidas ao Governo relacionadas com o envelhecimento ativo e saudável, que passam pela aproximação das reformas mais baixas ao salário mínimo nacional, melhores cuidados de saúde e o respeito pelo direito ao trabalho daqueles que pretendem continuar ativos quando atingem a idade da aposentação, revelou Maria do Rosário Gama.

“Temos algumas propostas. A principal é as pensões dignas, aproximar as pensões do salário mínimo, depois a diversificação dos serviços de apoio domiciliário, de modo a que as pessoas possam ficar o máximo de tempo possível em casa, as condições habitacionais, de modo a garantir a segurança; respeitar o direito ao trabalho das pessoas mais velhas que assim o desejam”, enumerou.

Medicamentos gratuitos para doenças crónicas e fisioterapia no Serviço Nacional de Saúde estão entre as reivindicações, uma vez que não raras vezes os pensionistas são confrontados com a necessidade de escolha entre o medicamento e a alimentação.

“O preço do nosso cabaz de compras continua muito alto”, lamentou, acrescentando que quem não tiver condições para pagar fisioterapia em regime privado tem de “suportar dores horríveis”.

“As pessoas mais velhas todas têm de comprar medicamentos. Com uma pensão abaixo de 500 euros, se as pessoas têm de comprar medicamentos, alimentos e ainda pagar a renda da casa, têm de fazer opções, e isso é uma situação de indignidade”, insurgiu-se a dirigente da Apre.

Do mesmo modo, defendeu como fundamentais consultas de prevenção e de saúde mental. “É muito importante, especialmente para as pessoas que vivem sozinhas”.

Portugal é o quinto país da União Europeia onde as pessoas percecionam pior o seu estado de saúde, sendo o cancro a causa de 40% das mortes entre as pessoas na faixa etária dos 65 aos 69.