A falta de especialistas em dermatologia no setor público e a sua concentração geográfica nos centros urbanos deixam 50% dos doentes com psoríase sem acompanhamento médico.

Essas limitações levaram a Associação Portuguesa da Psoríase (PSOPortugal) a desenvolver a plataforma "Encontre o Seu Dermatologista" para ajudar doentes e familiares a encontrar um médico especialista mais facilmente. Através de uma simples pesquisa por distrito, concelho e/ou código-postal, as pessoas vão conseguir ter informação sobre os dermatologistas que estão disponíves para consulta perto das suas áreas de residência.

Os mitos da psoríase desvendados por um médico
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Estivemos à conversa com um dos responsáveis pelo projeto, Jaime Melancia, presidente da PSOPortugal.

Por que motivo faltam especialistas em dermatologia?

Existem cerca de 450 especialistas em dermatologia e somente 30% integram o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Por isso, sabemos que faltam dermatologistas no SNS. Habitualmente, o médico de família é muitas vezes quem segue os casos de psoríase mais leves.

No entanto, quando há necessidade de referenciar a um dermatologista, tudo se complica, porque os tempos de espera no SNS são enormes. Por isso uma grande parte dos doentes de psoríase, os que podem, estão a ser seguidos na clínica privada, embora muitas vezes tenham de se deslocar aos grandes centros urbanos a muitas dezenas de quilómetros ou mesmo centenas da sua área de residência.

De que forma é que este portal resolve essa situação?

A ideia deste portal surgiu da necessidade de dar resposta às constantes solicitações dos doentes psoriáticos, que recorrem à PSOPortugal no sentido de os ajudarmos a identificar um dermatologista. Obviamente que enquanto associação de doentes sem serviços clínicos, não devemos indicar um ou outro médico em particular. Esta página permite aos doentes ou aos seus familiares encontrar um dermatologista mais facilmente. Através de uma simples pesquisa por distrito, concelho e/ou código-postal, as pessoas vão conseguir ter informação sobre os dermatologistas que estão disponíveis para consulta perto das suas áreas de residência. Esperamos vir a ter a adesão de mais dermatologistas, que podem solicitar a sua inclusão no formulário disponível no portal.

Jaime Melancia
Jaime Melancia, presidente da PSOPortugal

Por que motivo a doença ainda é alvo de estigmatização?

Fruto da falta de informação, a psoríase é uma doença que ainda suscita alguns preconceitos e estigmas. Ainda há quem julgue que esta doença é contagiosa, e não é, de todo.

Em Portugal, afeta cerca de 250 mil pessoas e o seu impacto, quer psicológico, quer social, é vasto. 76% dos doentes afirmam que sentem o forte impacto psicológico da doença e isso está muitíssimo relacionado com o facto de a doença interferir na relação com o outro, de ter impacto em situações de exposição do corpo como a ida à praia, de ainda ser fator de discriminação no local de trabalho ou no acesso a ele, de influenciar a vida íntima e sexual do indivíduo.

Obviamente, estes e outros exemplos, como as perturbações no sono, levam a que haja elevados níveis de depressão associados à doença e um estado de tristeza acentuado, que inclusivamente influencia a relação médico-doente.

Quais os grupos de riscos se é que existem?

A psoríase é uma doença crónica da pele que pode surgir em qualquer idade. A origem da psoríase não está totalmente esclarecida, embora se saiba que é geneticamente determinada e envolva alterações no funcionamento do sistema imunitário, que provocam inflamação e aumento da velocidade de renovação das células da epiderme.

O facto de ser geneticamente determinada não implica que a hereditariedade de pais para filhos seja obrigatória. Contudo, verifica-se uma maior probabilidade de aparecimento da doença em pessoas que tenham familiares portadores da mesma.

Quais os sinais de alarme?

Existem várias formas ou tipologias de psoríase e cada uma afeta os doentes de forma particular. A psoríase em placas é a forma mais comum e afeta 80% dos psoriáticos. Manifesta-se em qualquer parte do corpo, no entanto, incide especialmente nas áreas dos cotovelos, joelhos, costas e couro cabeludo. O seu aspeto, extensão, evolução e gravidade são muito variáveis, caracterizando-se, geralmente, pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e cobertas por escamas branco-prateadas.

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Quais os riscos de a doença não ser tratada?

Não sendo adequadamente tratada, a psoríase pode evoluir para situações graves que causam grande desconforto e dor.

O diagnóstico médico atempado da psoríase é essencial e, aliado a uma terapêutica correta, previne o sofrimento desnecessário dos doentes, os problemas articulares graves e irreversíveis, claro, o descontrolo da doença.

A psoríase é atualmente considerada uma doença sistémica, associada a múltiplas comorbilidades, incluindo cardiovasculares (obesidade, diabetes, hipertensão arterial e doença cardiovascular), a artrite psoriática, diabetes, responsáveis por notórios efeitos psicológicos no doente, sendo muito comum, entre os doentes com psoríase, casos de depressão, desespero, tristeza, angústia e stress, o que, por sua vez, também agrava a sua condição física.

Que tratamentos existem?

Nas formas ligeiras e localizadas as terapêuticas tópicas são geralmente eficazes. Atualmente estão disponíveis tratamentos tópicos (em gel, espuma ou solução) que, quando utilizados corretamente, permitem o controlo da doença.

Nos casos mais extensos e graves, habitualmente é necessário recorrer a terapêuticas orais ou injetáveis, que permitem o controlo da doença na grande maioria dos doentes e que parecem ter um impacto positivo no risco cardiovascular.

Nos últimos anos, decorrente do avanço que se observou no conhecimento da doença, foram desenvolvidas inúmeras terapêuticas, chamadas de terapêuticas biológicas, que revolucionaram o tratamento da psoríase e da artrite psoriática, capazes de promover a resolução completa ou quase completa das lesões psoriáticas e devolver a qualidade de vida perdida com a doença.

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