Uma equipa de psicólogos e uma médica psiquiatra avançou com uma investigação sobre o impacto psicológico do coronavírus (COVID-19) na população portuguesa, remetendo para “um dos primeiros estudos na área da psicologia das pandemias”, num momento em que o mundo enfrenta “uma das maiores ameaças existenciais deste século”, avança Mauro Paulino, um dos responsáveis da investigação.

Este estudo está a ser desenvolvido pela Mind – Instituto de Psicologia Clínica e Forense, coordenada por Mauro Paulino, com a colaboração do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa. A investigação visa estabelecer a prevalência de sintomas psicológicos, identificando fatores de risco e de proteção, para que, mais tarde, seja possível desenvolver estratégias que reduzam o impacto psicológico provocados pela pandemia.  

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Os autores apelam a todos e a todas que possam dispensar alguns minutos para preencher o questionário, que está disponível online através deste link: https://forms.gle/VD7iYexmDR6PEPsP9

Mauro Paulino alerta que “atualmente não existem informações consistentes sobre o impacto da pandemia COVID-19 na saúde mental dos portugueses, pelo que se torna especialmente pertinente a realização do estudo, dada a incerteza em torno de um evento de magnitude sem paralelo”.

Rodrigo Dumas-Diniz, também responsável pela investigação, espera que “os resultados possam apoiar entidades governamentais, não governamentais e profissionais de saúde para prestarem também atenção ao bem-estar psicológico da comunidade em geral. A saúde não se limita ao bem-estar físico”.

De modo a permitir a comparação de resultados, o desenho da investigação inspirou-se num estudo semelhante sobre os impactos psicológicos causados na população chinesa durante a fase inicial do COVID-19. Com 1210 participantes oriundos de 194 cidades da China, mais de metade dos inquiridos classificou o seu impacto psicológico como moderado a grave, sendo que cerca de um terço relatou ter sofrido níveis moderado a grave de ansiedade. Os autores concluíram que o estatuto de estudante e certos sintomas físicos (por exemplo, dores musculares e tonturas) foram associados a um impacto psicológico mais elevado. Por outro lado, informações de saúde atualizadas e precisas, assim como certas medidas de precaução foram associadas a níveis inferiores de stresse, ansiedade e depressão, remetendo para importância das políticas adotadas no combate à pandemia.

Mauro Paulino destaca que “tão importante quanto a compreensão do estado de saúde mental, será a possibilidade dos nossos resultados poderem fornecer uma base de referência na avaliação de esforços de prevenção e tratamento no decorrer da pandemia do coronavirus”.

Para o contexto português, os autores explicam que até à data, poucos estudos investigaram as consequências mentais de uma pandemia desta magnitude. Todavia, as informações disponíveis, ainda que escassas, sugerem a possibilidade de sérios efeitos sociais e psicológicos na população, inclusive nos vários profissionais de saúde e de segurança que têm trabalhado incessantemente. E, neste âmbito, a ciência psicológica tem um importante contributo a dar na sua identificação e, posteriormente, na sua intervenção.