Com menos de 200 habitantes, a pequena vila espanhola saiu do anonimato em 2011, depois de dois anos a trabalhar a ideia de criar um melhor apoio para os idosos, assim nascendo a Associação Amigos de Pescueza, relatou Constancio Martin, no 7.º Encontro Nacional de Estudantes de Gerontologia e Gerontólogos, que decorreu na quinta e na sexta-feira no Porto.
Criada a parceria com o município situado na província da Extremadura, a pouco mais de 100 quilómetros de Castelo Branco, nasceu o Centro de Dia Municipal e com ele “deu-se de imediato a conversão do serviço de apoio domiciliário, que passou a ser prestado pelo centro, primeiro para cerca de seis pessoas”, num projeto virado “para servir as pessoas nas suas casas, no seu meio, e não para as institucionalizar”, precisou.
O projeto assenta em quatro objetivos: trabalhar para que nenhum idoso tenha de abandonar a vila por falta de cuidados, sem renunciar ao exercício pleno da sua cidadania, sem prejuízo de direitos e obrigações por viver no meio rural, gerar e propor estratégias, alianças e políticas de intervenção favoráveis ao envelhecimento ativo e saudável, criar ambientes amigáveis e inclusivos com todas as pessoas durante todo o ciclo de vida e independentemente das suas circunstâncias e reativar a participação social dos idosos e colocá-los na agenda pública, social, política e económica.
Hoje em dia, assinalou o presidente, a associação tem “100 associados entre os cerca de 150, incluindo crianças, habitantes da vila”.
Já Pescueza passou a ser conhecida em Espanha como a “vila sem lares”, onde “as pessoas podem entrar e sair no nosso centro de dia sempre que quiserem, [pois] não funciona como um depósito de idosos”, frisou Constancio Martin.
Sublinhando que “a lição” é, sem pressas, “responder às necessidades sentidas, sem deixar de ter objetivos amplos, antecipando novos cenários”, o dirigente garantiu trabalharem “para converter as vilas num espaço onde viver e envelhecer seja uma opção voluntária ou de rebeldia, mas nunca uma resignação”.
Em declarações à Lusa, a presidente da Associação Nacional de Gerontólogos, Filipa Luz, considerou que o projeto apresentado no âmbito do I Congresso Internacional de Gerontologia “pode vir a ser replicado em Portugal” e que integrará o conjunto de sugestões no “memorando” que estão a preparar com as “conclusões do congresso para enviar ao Governo”.
Para além disso, e dado o caráter municipal do projeto em Pescueza, Filipa Luz mencionou que “vários municípios portugueses estiveram no congresso convidados pela associação e que, certamente, tomaram boa nota do exemplo apresentado”.
“O seu interesse pelo envelhecimento saudável certamente enriqueceu com esta partilha”, disse a especialista.
Filipa Melo, vice-presidente da Domus Social, empresa municipal que gere a habitação social no Porto, falou sobre as residências sénior partilhadas, projeto onde intervêm como entidades parceiras, para além do município, uma junta de freguesia e uma instituição particular de solidariedade social (IPSS).
Atualmente, descreveu, “existem oito residências partilhadas que albergam 20 pessoas com idades entre os 60 e 90 anos”, variando a tipologia entre o T2 e o T3, “não tendo os residentes qualquer encargo”.
“Nestas habitações, só o quarto é privado”, assinalou Filipa Melo, informando que a “higienização das casas e das roupas está a cargo da IPSS parceira”.
Desde que o projeto se iniciou, há seis anos, “já foram apoiados 25 idosos”, sendo que “nenhum aceitou mudar para outra habitação, em regime normal, assim que o seu número na lista de espera foi atendido”.
Para o futuro, desvendou Filipa Melo, o município quer criar “uma residência partilhada de maior dimensão e, posteriormente, uma ‘co-housing’ de raiz, completamente integrada e com parceiros nas áreas da saúde, sociais e de habitação”, projeto que gerou uma “candidatura da Área Metropolitana do Porto ao Plano de Recuperação e Resiliência”.
“Esperamos no próximo ano ter novidades”, concluiu a responsável da Domus Social.
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