A greve, marcada pelo Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem (SIPE) e pelo Sindicato dos Enfermeiros (SE), começou às 00:00 de hoje e decorre até às 24:00 de sexta-feira.

Segundo o presidente do SE, José Azevedo, os serviços mais afetados pela greve são os blocos cirúrgicos e a consultas e a adesão ronda os 85% a nível nacional.

Questionado pelos jornalistas em frente ao Hospital de São João, no Porto, onde, desde o início da manhã, estão concentradas várias centenas de enfermeiros de toda a região Norte, o dirigente sindical garantiu que estão assegurados os serviços mínimos. “Há segurança e há adesão”, sublinhou José Azevedo, considerando que as afirmações proferidas, nos últimos dias, pelo ministro da Saúde, nomeadamente em relação à eventual irregularidade do protesto, serviu para unir ainda mais os enfermeiros.

No caso concreto do Hospital de São João, José Azevedo referiu que a adesão à greve ronda os 90%, afirmando que “há chefes que estão a ameaçar com faltas, o que é muito triste”. Frente ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, algumas centenas de enfermeiros fazem-se ouvir desde as 09:00, vestidos de negro e com palavras de ordem que ilustram os propósitos do protesto.

Segundo Emanuel Boieiro (SE), este será o primeiro hospital a ser objeto de uma intervenção jurídica da parte do sindicato, uma vez que está a marcar faltas injustificadas aos enfermeiros em greve.

Este representante do SE garante que a greve não foi marcada irregularmente e avisou que as instituições que marquem falta injustificada aos enfermeiros serão processadas judicialmente.

Em Coimbra, frente ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), mais de 300 enfermeiros também se manifestam a exigir a progressão na carreira e um melhor sistema remuneratório.

Os profissionais estão concentrados na entrada principal do Centro Hospitalar e entoam cânticos e palavras de ordem, em sintonia com as reivindicações da greve de cinco dias dos enfermeiros, que começou hoje.

Os primeiros manifestantes começaram a concentrar-se, cerca das 08:00, na sequência de um apelo feito através das redes sociais, disse Luís Pereira, enfermeiro da Unidade de Queimados do CHUC, que integra o grupo de ativistas que dinamiza o protesto. “O protesto é espontâneo, resulta da nossa indignação. Não são precisos os sindicatos para promoverem estas ações”, acrescentou o enfermeiro, que exerce a profissão há 25 anos.

Veja ainda: As fotos dos enfermeiros em protesto de Norte e a Sul

Também nos Açores, cerca de 300 enfermeiros do hospital e centro saúde de Ponta Delgada, concentraram-se hoje, empunhando cartazes e usando t-shirts negras, queixando-se de estarem a ser discriminados nas suas carreiras.

Num dia aparentemente normal no hospital do Divino Espírito Santo, Natacha Gomes, da organização do movimento, manifestava satisfação pela adesão dos enfermeiros à concentração, uma vez que todos que optaram por se concentrarem “foram ameaçados com faltas injustificadas e processos disciplinares".

“Mesmo assim as pessoas decidiriam arriscar e manifestar-se como forma de protesto, tal como aconteceu em todo o país”, declarou aos jornalistas a porta-voz dos enfermeiros, que considerou ser esta uma “grande prova do movimento” e do “sentimento de revolta que reina, neste momento, na classe”.

Os enfermeiros iniciaram hoje uma greve de cinco dias contra a recusa do Ministério da Saúde em aceitar a proposta de atualização gradual dos salários e de integração da categoria de especialista na carreira.

Contactado pela agência Lusa, fonte do gabinete do ministro da Saúde disse que a tutela não tenciona, para já, divulgar quaisquer números da adesão a esta greve.

Na quinta-feira, os hospitais foram alertados pela tutela para estarem atentos a “eventuais ausências de profissionais de enfermagem” durante o período da greve que começa segunda-feira, cuja marcação foi considerada irregular pela secretaria de Estado do Emprego.

A circular enviada pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) recordava que o protesto foi irregularmente convocado e informava que “eventuais ausências de profissionais de enfermagem neste contexto devem ser tratadas pelos serviços de recursos humanos das instituições nos termos legalmente definidos quanto ao cumprimento do dever de assiduidade”.

A ACSS refere ainda que “devem os órgãos de gestão dos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do Ministério da Saúde providenciar para que o normal funcionamento dos serviços e da prestação de cuidados não sejam postos em causa”.

Na sexta-feira, o ministro da Saúde acusou os enfermeiros especialistas em protesto de atropelarem a lei, a ética e moral, considerando que têm tido um comportamento errático e irregular.

Em entrevista ao Jornal da Noite da SIC, Adalberto Campos Fernandes disse que não existe "nenhuma guerra com os 42 mil profissionais de enfermagem", mas sim com um grupo que tem "violado todos os princípios da lei e da ética".

Para o ministro da Saúde, "é impossível em três meses fazer aumentos salariais de 100% ou 200%”, considerando que está a ser feita uma chantagem à margem da lei.