Mais um dia 4 de fevereiro em que se comemora, desde 2000, o Dia Mundial do Cancro. Pretende-se, com essa comemoração, chamar a atenção para essa(s) doença(s). Será, a esse propósito, adequado lembrar as situações de cancro profissional ou de cancro “ligado” ao trabalho.

De facto, estima-se que o trabalho possa contribuir, de diversas formas, para a incidência de cancro em 4 a 8%, o que equivalerá a alguns milhares de casos por ano. Estima-se também que no mundo morram, anualmente, mais de 10 milhões de pessoas por cancro, o que, pasme-se, será grosseiramente equivalente à população de Portugal.

Se para a generalidade dos cancros, cerca de um terço possa ser tratado se identificados atempadamente e outro terço pode ser totalmente evitado, no caso do cancro profissional ou “ligado ao trabalho” essa evicção é (tendencialmente) possível se forem adoptadas as mais adequadas medidas de gestão de riscos profissionais baseadas no conhecimento científico já, actualmente, existente. Apesar disso, e com excepção do amianto (ou asbestos), designadamente no espaço europeu, existem muitas situações de trabalho onde continuam a ser usadas substâncias cancerígenas e trabalhadores potencialmente expostos com risco de contrair cancro profissional ou ligado ao trabalho.

Poder-se-ia mesmo dizer que as grandes apostas de prevenção do cancro poderiam (e deveriam) abranger, para além da prevenção dos hábitos tabágicos, a prevenção do cancro ligado ao trabalho já que, em ambas as situações, essa prevenção poderá ser, tendencialmente, totalmente coroada de sucesso e representa um número muito importante de casos. Infelizmente, em muitos outros casos as variáveis individuais são bem mais determinantes, como é o exemplo paradigmático do envelhecimento.

Conhecer os riscos, apesar de não os prevenir, é uma forma importante de contribuir para o combate ao cancro. Simetricamente, desconhecê-los, certamente, poderá contribuir para aumentar o risco de os contrair o que acontece demasiadas vezes em ambiente profissional em que essa opção é tomada, pasme-se, para não “proteger” os trabalhadores desse conhecimento (????).

Uma boa recomendação aos trabalhadores poderia ser: “Se puder, procure o seu médico do trabalho e, pelo menos, informe-se se as condições de trabalho em que exerce a sua actividade pode aumentar o risco de cancro, não para não continuar a trabalhar, mas para trabalhar adoptando as correctas medidas de prevenção!”. Se o leitor é médico (incluindo os médicos do trabalho) não se esqueça que o trabalho pode ser causa de cancro e que a sua prevenção, com medidas de prevenção colectiva e individual, é muito eficaz. E a primeira acção para essa prevenção é a “comunicação desse risco”!