No primeiro dia de entrega obrigatória de receitas eletrónicas, os receios de alguns farmacêuticos revelaram-se injustificados sem registo de casos de utentes prejudicados até agora.

“Estamos a acompanhar a situação em todo o país e até ao momento a situação está a correr relativamente normal tendo em conta a mudança”, contou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Farmácias, João Cordeiro.

A agência Lusa fez uma ronda por mais de uma dezena de farmácias da capital e todos os farmacêuticos corroboraram a informação avançada por João Cordeiro.

Na Farmácia Sanex, na avenida da Igreja, até às 13h00 tinham sido aviadas cerca de 30 receitas. “A maior parte são informatizadas, só recebemos três manuscritas mas vinham ao abrigo da portaria que define as exceções”, disse à Lusa a farmacêutica Marta Fernandes.

As quatro “exceções” previstas na legislação destinam-se a médicos que prescrevam menos de 50 receitas por mês, que aleguem inadaptação ao sistema informático, provem falência do sistema ou mediquem no domicílio.

Nos casos em que as exceções não estão contempladas na receita manual, quem sai prejudicado é o utente que é obrigado a pagar o medicamento na íntegra ou forçado a voltar ao médico para pedir uma nova receita.

No entanto, “até agora não houve qualquer problema”, garantiu Marta Fernandes. A acalmia vivida na Farmácia Sanex sentia-se nas outras cinco farmácias da avenida da Igreja, onde os farmacêuticos lembravam que todas as receitas com data anterior ao dia de hoje podem ser manuscritas sem qualquer prejuízo para o utente.

E, segundo João Cordeiro, a "maior parte" do receituário entregue hoje foi prescrito antes da entrada em vigor da lei. Isto não significa que sejam receitas escritas à mão já que, segundo dados da Ordem dos Médicos, a prescrição eletrónica já é superior a 70 por cento no Serviço Nacional de Saúde, sendo uma minoria os casos de médicos que operam no setor privado e que ainda não estão preparados para a mudança.

Maria da Lurdes Silva, 73 anos, é uma das utentes que há muito se habituou às receitas eletrónicas: "a minha médica já me passa eletrónicas há meses. É muito melhor para mim que sei o que lá está escrito e para ela que não tem de estar a escrever, basta carregar numa tecla do computador".

A mudança também agrada farmacêuticos. “Antes via-me grego para ler alguns nomes de medicamentos, andava aqui com as receitas às voltas para tentar decifrar o que lá estava escrito. É que o farmacêutico não se pode enganar, senão ainda mata o doente”, sublinhou Vasco Carvalho, da Farmácia Roma.

Maria Gracinda Roque, 77 anos, que hoje aviou uma receita manuscrita numa farmácia de Benfica também saudou a iniciativa: “agora é muito mais seguro, porque percebo o que está escrito. Antes não percebia porque a letra da minha médica era ilegível".

A farmacêutica Margarida Simões, da Farmácia Benfiluz, reconheceu que houve "alguma confusão" provocada pelos adiamentos da entrada em vigor da medida: “Alteraram várias vezes as datas em que podíamos aceitar as receitas à mão. Primeiro era na primavera, depois até junho e agora até julho e aqui acabámos por não aceitar duas receitas incorretamente. Mas agora já não vai haver mais esse problema”.

01 de agosto de 2011

Fonte: Lusa