O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) defendeu hoje que há pacemakers de “preço muito elevado” que podem ser reutilizados sem qualquer prejuízo para o doente e permitindo poupanças no sistema de saúde.

“Há pacemakers de preço muito elevado que podem ser perfeitamente ‘reesterilizados’ e utilizados, embora isso fira as regras europeias, mas parece-nos que há situações em que essas regras foram condicionadas pelas empresas que produzem esses aparelhos”, disse à Agência Lusa José Manuel Silva.

Para o bastonário, as normas que existem atualmente devem ser reanalisadas sob o ponto de vista científico “sem qualquer influência dos ‘players’ comercialmente interessados no processo”.

Falando à Lusa a propósito da denúncia do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) de tentativas de reutilização de materiais que não são reutilizáveis em serviços como a diálise ou a cardiologia, o bastonário da OM afirmou que “não há nenhuma razão científica” para não se reutilizarem os pacemakers.

“Nós vivemos numa era em que transplantamos órgãos e se transplantamos órgãos, transplantamos tecidos, portanto não há nenhuma razão científica para não se poderem transplantar também os aparelhos que são ‘reesterilizáveis’ como foram esterilizados a primeira vez antes de serem utilizados”, defendeu.

Para José Manuel Silva, a reutilização dos aparelhos “pode introduzir uma poupança significativa no sistema sem que haja qualquer perda de qualidade e sem riscos para os doentes”.

“É uma forma de racionalizar custos com base científica”, reiterou, sublinhando que este tema “já tem sido afrontado em algumas reuniões de cardiologistas e deve ser considerado pelas autoridades regulamentares”.

Explicou ainda que nem sequer é necessária terapêutica imunossupressora como se faz no transplante de órgãos.

Relativamente às denúncias do SEP, José Manuel Silva afirmou que não tem conhecimento dessas situações.

“Não me foram reportadas, o que não quer dizer que não existam situações que possam ultrapassar o limite do cumprimento das regras técnicas para cada uma das situações descritas”, adiantou.

O bastonário apelou ao SEP para dizer onde estão a acontecer esses casos para que sejam analisados e para “não estigmatizar todas as instituições”.

O dirigente do SEP José Carlos Martins enumerou na terça-feira vários exemplos da perda de qualidade dos serviços e do material disponibilizado nos serviços de saúde que estarão relacionados com os cortes financeiros.

O enfermeiro deu exemplos de situações graves, como a tentativa de reutilização de materiais que não são reutilizáveis, como pacemakers, que o sindicato está a apurar de forma a apresentar os casos às “autoridades competentes”.

As áreas da diálise ou dos transplantes foram igualmente apresentadas como as que registam estas tentativas de reutilização indevida de materiais.

21 de março de 2012

@Lusa