Uma equipa de investigação do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) e do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) descobriu que o "Coriolus versicolor" aumenta a complexidade dos novos neurónios formados no hipocampo adulto, uma área do cérebro ligada à memória.

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"A nossa descoberta sugere que este cogumelo poderá contribuir para o fortalecimento da reserva neurogénica e possivelmente da ‘reserva cognitiva'" aponta Ana Cristina Rego, investigadora do CNC, docente da FMUC e corresponsável pela coordenação da investigação.

Frederico Costa Pereira, investigador do iCBR, docente da FMUC e corresponsável por este estudo, acrescenta que "uma dieta que inclua este suplemento pode fazer parte de uma estratégia que favoreça o envelhecimento saudável, incluindo a prevenção de défices cognitivos associados ao processo de neurodegenerescência".

Teresa Cunha Oliveira, Ana Cristina Rego e Luana Naia
Teresa Cunha Oliveira, Ana Cristina Rego e Luana Naia, investigadoras da Universidade de Coimbra créditos: UC

Este investigador avisa, contudo, "que mais estudos pré-clínicos terão de ser realizados". Publicado na revista "Oncotarget", o estudo foi realizado em murganhos (ratinhos) submetidos a uma dieta com a biomassa do cogumelo, tendo-se verificado um aumento significativo do tamanho e arborização das dendrites (prolongamentos dos neurónios que permitem que estes comuniquem entre si) de novos neurónios formados no hipocampo adulto.

O estudo teve como primeiras co-autoras Elisabete Ferreiro (investigadora do CNC) e Inês Pita (investigadora do iCBR) e envolveu ainda Sandra Mota (do CNC), Carlos Fontes-Ribeiro (do iCBR) e Nuno Ferreira (da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra).

Coriolus Versicolor, o que é?

O Coriolus Versicolor é utilizado há milhares de anos no reforço do sistema imunitário pela Medicina Tradicional Chinesa.

Este cogumelo, também denominado por Trametes Versicolor, pode ser encontrado nas florestas europeias, no Norte da América e na Ásia.

Nos últimos anos, esta espécie tem despertado muito interesse entre os investigadores devido às suas propriedades bioativas.

Há cerca de 10 anos, uma equipa do Instituto Português de Oncologia descobriu que um suplemento alimentar à base deste cogumelo mostrou "grande eficácia" no combate ao cancro do colo do útero.

Cooperação entre investigadores

Durou cerca de 18 meses e contou com o patrocínio da Mycology Research Laboratories (www.mycologyresearch.com), empresa britânica focada em produtos de nutrição baseados em cogumelos, que mantém colaborações com várias universidades portuguesas.

O grupo de investigação contou ainda com a colaboração da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, do Achucarro-Centro Basco de Neurociência (Espanha) e do Departamento de Ciências Biomédicas e Biotecnológicas da Escola de Medicina da Universidade de Catania (Itália).

William Ahern, diretor-geral da Aneid Produtos Farmacêuticos, que representa a farmacêutica britânica em Portugal, "mostra-se otimista com os resultados", sublinhando que "mais investigação básica (a nível laboratorial) e clínica terá de ser efetuada para demonstrar um aumento da ‘reserva cognitiva'", segundo uma nota divulgada hoje pela Universidade de Coimbra.