Quase dois terços dos inquiridos num estudo defendem um maior investimento do Estado no setor da Saúde e particularmente nos tratamentos oncológicos, nem que para isso seja necessário cortar noutras áreas como a Educação ou a Justiça.
Segundo o estudo “Perceções sobre o setor da Saúde em Portugal, em particular sobre a área oncológica”, 69,6 por cento dos inquiridos defendem que esta deveria ser a área de investimento prioritário por parte do Estado, muito aquém de setores como a Educação (15,9 por cento), dos apoios sociais (3,6 por cento) ou a Justiça (3,9 por cento), convicção que é independente das características sócio demográficas da população.
Os dados revelam também que de entre os portugueses que apresentam soluções para lidar com as limitações do orçamento de Estado (44 por cento), cerca de dois terços (62,9 por cento) defende uma redistribuição de verbas para garantir que todos os doentes tenham acesso a novos medicamentos para o tratamento do cancro.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador do estudo adiantou que a maioria dos portugueses está disponível “a que se façam cortes noutras áreas de investimento do Estado de modo a que os doentes com cancro continuem a ter acesso aos novos medicamentos” e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se mantenha com “caráter universal e gratuito”.
Segundo Victor Cavaco, “os portugueses demonstram algum desconforto com os cortes orçamentais que se apregoam e com o que virá a seguir”, existindo neste momento “algum descontentamento com o funcionamento em geral da área da Saúde”.
Este “relativo desagrado” está particularmente associado aos tempos de espera no SNS, sublinhou o sociólogo.
O estudo, que será apresentado na sexta-feira, indica ainda que o cancro é a doença mais preocupante para 64 por cento dos inquiridos.
E embora esta patologia seja uma das três em que a maioria dos portugueses (80 por cento) acredita que o Estado gasta mais dinheiro, 85,3 por cento concorda que se verifique um aumento da despesa nessa área.
Quando se compara o tratamento do cancro em Portugal com os cuidados prestados por outros países europeus, 60 por cento dos inquiridos acredita que a qualidade é similar. Entre aqueles que acreditam que o tratamento desta patologia é pior em Portugal, cerca de 30 por cento justifica essa opinião com os atrasos nos tratamentos e a ausência de alguns fármacos em território nacional.
Victor Cavaco explicou que “a satisfação com o tratamento do cancro tende a ser maior nas pessoas que já recorreram a esses tratamentos ou familiares. Quanto maior a proximidade com a doença maior é o reconhecimento da capacidade de serviços do sistema nacional de saúde”.
A amostra do estudo, que decorreu em abril, envolveu 803 questionários telefónicos aplicados aleatoriamente a pessoas com 18 ou mais anos e apresenta uma margem de erro de cerca de 3,46 por cento, para um intervalo de confiança de 95 por cento.
Os dados do estudo vão ser debatido no fórum Novos Horizontes em Oncologia promovido pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares e pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.
16 de junho de 2011
Fonte: Lusa/SAPO
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