
“O grande desígnio do setor é, até 2030, atingir a autossuficiência”, afirmou David Neves à agência Lusa.
A produção nacional assegurou, em 2015, 59% das necessidades de consumo de carne de porco dos portugueses, 64,4% em 2016 e 60,1% em 2017, de acordo com dados divulgados à Lusa pelo setor. “Temos vindo a reduzir as importações e, tendo em conta que o consumo ‘per capita’ está estabilizado, na ordem dos 43,7quilogramas/habitante/ano, estamos a colmatar essas importações com a produção nacional”, justificou.
Espanha, o fornecedor
Espanha, um dos grandes produtores mundiais, é o país do qual Portugal importa 96% da carne.
“Até há pouco tempo, estávamos cingidos ao mercado interno e, com a pressão dos espanhóis, o setor não conseguia fazer valer o seu produto”, disse, adiantando que o setor que tem vindo a ultrapassar essa barreira.
Para tal, contribuiu o projeto ‘porco.pt’, lançado em junho de 2017, após a maior crise que o setor atravessou, entre 2015 e 2016, com o intuito de certificar e diferenciar a carne de porco portuguesa da estrangeira, assim como aumentar as preferências dos consumidores pela produção nacional.
Com a certificação, a carne passou a ser vendida com um rótulo, no qual é indicado o país de origem. “Cada vez mais a marca ‘ porco.pt’ se assume como uma referência da carne de porco portuguesa e vai ao encontro das necessidades do consumidor”, concluiu.
O projeto, segundo a FPAS, permitiu ao setor, “neste primeiro semestre de 2018, atingir os objetivos que tinha para todo o ano, ou seja, relativamente a 2017, duplicou as vendas”.
No âmbito do projeto, foram vendidas 2883 toneladas de carne entre junho e dezembro de 2017, quando entre janeiro e agosto deste ano as vendas foram de 5838 toneladas, segundo dados divulgados à Lusa pela FPAS.
A carne certificada representa 3,4% das vendas totais de carne de porco nacional e envolve 45% da produção nacional, com 56 produtores, meio milhar de explorações e 20 unidades de abate e transformação.
Um ano depois, uma gama ‘premium’ (de maior qualidade) chegou em setembro ao consumidor e junta 25 produtores.
Até ao final de 2008, o setor espera retomar por completo da crise e começar a crescer.
Com o aumento das exportações e a diminuição das importações, a FPAS estimou que possa haver um crescimento da rentabilidade do setor, assim como um aumento do investimento e da produção.
Para isso, alertou, terão de ser ultrapassadas as dificuldades atuais de licenciamento das explorações e alterada a estratégia política para o setor.
“É preciso que os custos associados aos processos de licenciamento para esta atividade sejam largamente reduzidos, porque é preciso deslocalizar e reestruturar explorações para reorganizar a sua capacidade produtiva e isto só é possível se houver alguma agilidade comparativamente ao que existe em Espanha, em que os processos são extremamente céleres”, detalhou.
Em 2017, o setor produziu 271 toneladas de carne, das quais 17,8% foram para exportação, e faturou mais de 500 milhões de euros.
Duplicar exportações
Os suinicultores portugueses têm “praticamente fechado” um acordo com a China, que lhes permite em 2019 duplicar as exportações e começar a crescer, três anos após a maior crise, anunciou hoje a Federação Portuguesa de Associações de Suinicultura (FPAS).
“Com a China, que é o maior produtor do mundo e o maior importador e consumidor de carne de porco, temos as negociações praticamente concluídas e a nossa expectativa é de que, no primeiro trimestre de 2019, seja possível começar a exportar para a China”, disse o vice-presidente da FPAS, David Neves, à agência Lusa.
Numa primeira fase, Portugal vai exportar por ano mais de mil toneladas de carne, cerca de 15% da produção, e faturar cem milhões de euros, podendo vir a duplicar estes valores numa segunda fase.
“Estamos a falar em poder exportar para a China 200 milhões de euros por ano [na segunda fase], que representará 25 a 30% da produção nacional”, concluiu o responsável, adiantando que o acordo é “um forte estímulo para a expansão e crescimento do setor em Portugal”.
Em 2017, o setor exportou 17,8% da sua produção e faturou mais de cem milhões de euros no mercado externo, vindo todos os anos a internacionalizar-se mais, de acordo com dados divulgados à Lusa.
Entre os principais mercados da exportação estão Espanha, Angola, Reino Unido e França, depois de a Venezuela, que era em 2015 o principal mercado da carne de porco, ter deixado de o ser em 2017, e de, em 2018, ter deixado de constar entre os cinco principais mercados, devido à crise.
Em 2017, a produção nacional de carne foi 271 toneladas, menos do que em 2016 (291 toneladas), correspondentes a 513 milhões de euros, mais do que no ano anterior (486 milhões de euros).
“Tivemos uma crise, que foi a maior que o setor viveu e que afetou o último semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016, e temos vindo a verificar que o setor tem vindo a crescer do ponto de vista do valor e em efetivos, com mais 7% de animais reprodutores e 11% de animais para abate”, disse.
O preço médio de venda da carne baixou de 1,56 euros por quilograma, em 2017, para 1,48 este ano, mas subiu em relação a 2016 (1,31).
Apesar da estabilização e da retoma do setor, explicou, a “China, sendo o grande motor da economia mundial, retraiu as importações e todo o mercado se ressentiu e, quando estamos numa Europa excedentária, há efeitos do ponto de vista do preço”.
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