Os investigadores do Instituto Peter Doherty, em Merlboune, Austrália, advertem num novo estudo que, embora tenham sido aprendidas lições com a pandemia mais mortal da história, o mundo está mal preparado para o "próximo assassino global". Em particular, os investigadores alertam que alterações demográficas, resistência a antibióticos e mudanças climáticas podem complicar as respostas a qualquer surto futuro.

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"Enfrentamos novos desafios, como o envelhecimento da população, a obesidade e a diabetes", começa por dizer à AFP Carolien van de Sandt, do Instituto Peter Doherty para a Infeção e Imunidade.

Os cientistas preveem que a próxima pandemia de influenza - provavelmente uma estirpe da gripe aviária que infetará humanos e se espalhará rapidamente pelo mundo através de viagens aéreas - pode matar até 150 milhões de pessoas.

As alterações climáticas podem mudar os padrões de migração das aves, trazendo potenciais vírus pandémicos para novos locais e potencialmente uma variedade maior de espécies de aves

Van de Sandt e sua equipa examinaram uma grande quantidade de dados sobre a gripe espanhola, que afetou o planeta em 1918 atingindo uma em cada três pessoas. Os investigadores também estudaram três outras pandemias: a gripe asiática de 1957, a gripe de Hong Kong de 1968 e o surto de gripe suína de 2009.

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Vírus revelou-se mais eficaz por causa da guerra

Hoje acredita-se amplamente que a estirpe da gripe de 1918 surgiu entre militares americanos e matou uma quantidade desproporcionalmente alta de soldados e jovens. Em 1918, num mundo que lutava contra o impacto económico da primeiro guerra mundial, o vírus tornou-se mais letal devido às altas taxas de desnutrição.

Ao contrário da maioria das nações, que usaram a censura durante a guerra para reprimir as notícias sobre a disseminação do vírus, Espanha permaneceu neutra durante a Primeira Guerra Mundial. Numerosos relatos da doença nos média espanhóis levaram muitos a supor que a doença teve ali origem, e o nome acabou ficando.

Mas a equipe por trás de um novo estudo, publicado na revista Journal Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, disse que o próximo surto se espalhará no mundo desenvolvido entre uma população que sofre com taxas recordes de obesidade e diabetes.

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Duplo fardo

"O que sabemos da pandemia de 2009 é que pessoas com certas doenças (como obesidade e diabetes) tiveram probabilidade significativamente maior de serem hospitalizadas e morrer de gripe", disse à AFP Kirsty Short, da escola de Química e Biociências da Universidade de Queensland.

A equipa alertou que o mundo enfrentava um "duplo fardo" de doenças graves devido à desnutrição generalizada nos países pobres - exacerbada pelas mudanças climáticas - e à supernutrição nos países mais ricos. Por outro lado, o aquecimento global poderá ter impacto de outras formas.

Van de Sandt refere que, uma vez que muitas estirpes de influenza começam em aves, um planeta em aquecimento pode alterar o ponto de origem do próximo surto.

"As alterações climáticas podem mudar os padrões de migração das aves, trazendo potenciais vírus pandémicos para novos locais e potencialmente uma variedade maior de espécies de aves", disse.

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A maioria das mortes no surto de 1918 - cerca de 50 milhões de pessoas - deveu-se a infeções bacterianas secundárias, algo que os antibióticos ajudaram a aliviar durante as pandemias subsequentes. Mas hoje muitas bactérias tornaram-se resistentes a antibióticos.

"Isso aumenta o risco de as pessoas sofrerem novamente de doenças e morrerem como resultado de infeções bacterianas secundárias durante o próximo surto pandémico", disse Katherine Kedzierska, do Instituto Doherty, em Melbourne.

Nenhum destes vírus adquiriu a capacidade de se espalhar entre humanos, mas sabemos que o vírus só precisa de pequenas mutações para que isso aconteça

Os autores ficaram particularmente alarmados com o influenza H7N9 - um vírus que mata cerca de 40% das pessoas infetadas, mesmo que atualmente não possa passar de humano para humano. "Até ao momento, nenhum destes vírus adquiriu a capacidade de se espalhar entre humanos, mas sabemos que o vírus só precisa de pequenas mutações para que isso aconteça", disse Van de Sandt.

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Informar o público

O planeta de 2018, com mais de sete mil milhões de pessoas, megacidades e viagens aéreas para todo o lado, é muito diferente do mundo de há um século atrás. Não obstante, os investigadores insistem que há muitas lições que a gripe espanhola pode ensinar aos governos de hoje.

Por natureza, as estirpes de vírus pandémicos são imprevisíveis - se as autoridades soubessem que gripe se alastraria, poderiam investir numa vacina amplamente disponível. Ainda assim, até que a vacina seja criada, "os governos devem informar o público sobre o que esperar e como agir durante uma pandemia", disse Van de Sandt. "Uma lição importante da pandemia de influenza de 1918 é que uma resposta pública bem preparada pode salvar muitas vidas", acrescentou.