Esta plataforma de análise de imagem vai permitir, assim, "um tratamento precoce e mais eficaz, para uma população diabética mais alargada", disse à Lusa Aurélio Campilho, responsável pelo Centro de Engenharia Biomédica do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), entidade que coordena o projeto a nível nacional.

Para tal, a plataforma, que estará disponível aos oftalmologistas, vai incorporar tecnologias de informação e comunicação, para avaliar a qualidade das imagens recolhidas do fundo ocular dos pacientes, detetar as imagens normais e atribuir um grau de severidade à patologia, auxiliando assim o trabalho no processo de decisão.

Hoje também foi notícia que mais de mil doentes foram identificados com retinopatia diabética num rastreio que encaminhou estes pacientes para uma consulta de oftalmologia e assim travou o avanço de uma complicação que pode causar cegueira.

Esforço elevado dos médicos

De acordo com Aurélio Campilho, é exigido um "elevado esforço" aos oftalmologistas na análise das diversas imagens de cada paciente, visto que "muitas não apresentam sinais de qualquer patologia (cerca de 75%) e outras não têm uma visibilidade adequada, o que não permite avaliar (cerca de 5% do total)".

"A diabetes é uma doença com um crescimento galopante a nível mundial e uma das suas complicações mais comuns é a retinopatia diabética (RD)", referiu o professor, acrescentando que "apesar de se estimar que cerca de 50% dos diabéticos tipo 2 e de 70% tipo 1" venham a desenvolver a doença, "esta pode ser evitada com tratamento precoce, se diagnosticada numa fase inicial".

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De acordo com o investigador, existem programas de rastreio de RD, como o desenvolvido pela Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte), que abrange uma população diabética de cerca de 250 mil diabéticos, mas que envolve, no entanto, uma "logística complexa".

Esta plataforma, que se prevê concluída em 2020, está a ser desenvolvida para o rastreio de retinopatia diabética, no entanto, segundo Aurélio Campilho, o conceito pode ser alargado para outras situações de rastreio, como o do cancro pulmonar ou do colorretal.

O projeto "Plataforma de Análise de Imagem e Aprendizagem Computacional para a Inovação do Rastreio de Retinopatia Diabética" é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no âmbito do programa Carnegie Mellon Portugal.

Para além do INESC TEC, participam neste projeto a Carnegie Mellon University (coordenador geral do projeto), dos Estados Unidos, a Universidade de Aveiro, a ARS-Norte e a empresa BMD Software, com a colaboração do Centro Hospitalar de São João e da First Medical Solutions.

Este trabalho deu origem a um artigo, que vai ser publicado na revista 'IPSJ Transactions on Computer Vision and Aplications', dedicada a destacar projetos de investigação, nomeadamente na área da visão computacional e as suas aplicações.