Segundo as últimas normas da DGS, esta crónica pode ser escrita se forem mantidas as regras de segurança e distanciamento social. Apressei-me a fazê-lo porque, numa questão de minutos, a DGS pode esclarecer que esta crónica está mesmo proibida de ser escrita.
Vivemos tempos instáveis, não pelo vírus nem pela nossa rotina estar toda alterada, porque a isso já nos habituámos. A incerteza de quem deveria estar mais certo é que nos baralha as contas. Acordamos com a notícia de que os arraias estão permitidos e, passado umas horas, esclarecem que afinal estão expressamente proibidos. O truque parece estar na nossa rapidez de actuação entra cada conferência de imprensa. Se tivéssemos sido astutos, aquelas 4 horas de arraial já ninguém nos tirava. Tornar-se-ia no arraial mais intenso da história, mas parece que os tempos assim o obrigam.
Já os meus pais me diziam que devemos aprender sempre com os mais velhos. E a DGS não tem feito mais do que aprender com a OMS. Num destes dias referiu que os assintomáticos raramente transmitem o vírus. Horas depois, refere que foi um “mal-entendido”, recuando na tal “rara” transmissão por pessoas sem sintomas. Se a DGS trabalhasse em parceria com a OMS, poderíamos ter um arraial de assintomáticos e estaríamos a cumprir as últimas normas. O número de infectados poderia aumentar, é certo. Mas isso seria depois e rapidamente se arranjaria um argumento que desculpasse o percalço. E, convenhamos, mesmo que isso acontecesse, não seria um impedimento para o normal desenrolar da vida. Prova disso é que, num dos dias com maior número de casos de COVID-19 (421 infectados, 92% dos quais na região de Lisboa e Vale do Tejo), foi anunciado que os centros comerciais de Lisboa poderiam reabrir. Tudo isto no mesmo dia em que Centeno se demite das suas funções de ministro das Finanças, fazendo lembrar o senhor cuja casa estava quase a ser consumida pelas chamas e, mesmo assim, disse: “vou abandonar, porque tenho consulta agora às cinco”.
O país anda desnorteado e esta falta de regra torna-se convidativa à entrada de todo o tipo de espécies no nosso país. Como um crocodilo, por exemplo, que andou a ser procurado no rio Douro, quiçá com destino a Portugal. Claro que passado uns tempos se constou que não seria um crocodilo, mas sim, uma lontra. Que as feições são parecidas, não me parece que restem dúvidas. Quantos de nós não conhecemos pessoas que se deslocaram ao Oceanário de Lisboa para ver a Amália e o Eusébio, dois prestigiados jacarés? O erro é justificado. Eu também tenho tios que dizem fazer criação de gnus que, por acaso, são só bois. Tenho uma tia-avó que tem um rato que ladra e que, por acaso, é só um Chihuahua. Assim como tenho um primo que vive com um animal que uiva e que, por acaso, é só a minha prima quando está com o namorado.
A DGS ainda não se pronunciou sobre este caso, porque não lhe interessa se é um crocodilo ou uma lontra, desde que mantenham a distância de segurança e não venham para Portugal para arraiais. A OMS, quando comecei a escrever esta crónica, tinha dito que, quer seja crocodilo ou lontra, podem andar no rio Douro à vontade, caso estejam assintomáticos. No final da crónica, já estava a garantir que, afinal, não era bem assim. Já o Centeno, mal soube da hipótese de existir um problema no Douro, foi de férias para o Algarve.
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