A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que até 2050 a população mundial aumente 32%, para um total de 9,7 mil milhões de pessoas e, por isso, passou a recomendar em 2013 a introdução de insetos na alimentação humana por existirem em abundância e por serem ricos em proteínas.
As investigadoras tiveram a recomendação em conta e decidiram pegar em baratas cinéreas (Nauphoeta cinerea), de origem africana, produzidas em cativeiro e próprias para consumo humano, em detrimento da barata doméstica comum (Periplaneta americana).
As baratas africanas são constituídas maioritariamente (70%) por proteínas - contra os 50% da carne bovina - e já existem há milhões de anos sem alteração genéticas.
"Alguma coisa muito boa elas têm para passarem pelo processo de evolução sem terem de se adaptar", afirma a engenheira alimentar Andressa Jantzen da Silva Lucas, uma das responsáveis pelo estudo, citada pela BBC.
Juntamente com a também engenheira alimentar Lauren Menegon de Oliveira, as duas cientistas compraram as baratas desidratadas de um criador certificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) brasileira.
As baratas foram trituradas e o material obtido foi peneirado para ficar homogéneo. Por fim, na receita tradicional do pão, as investigadoras adicionaram 90% de farinha de trigo comum e 10% de farinha de barata desidratada. O resultado foi surpreendente: "Com a adição de 10% da farinha de barata, o teor proteico do pão aumentou 133%", afirmou Andressa.
Uma fatia de 100 gramas de pão tradicional tem 9,7 gramas de proteínas, enquanto uma fatia de 100 gramas de pão de barata contém 22,6 gramas de proteína. "Além disso, no pão feito com a farinha de barata reduzimos em 68% a quantidade de gordura adicionada, pois aproveitamos a gordura presente na farinha de barata", acrescenta.
Andressa garante que o pão de barata não tem um cheiro nem um gosto diferente quando comparado com o pão feito com farinha tradicional. "Fizemos uma análise sensorial, de textura, de odor, cor e sabor. Não houve alteração significativa. Talvez a pessoa note um leve toque com sabor a amendoim", afirmou a engenheira.
Depois do sucesso do pão de farinha de barata, as engenheiras Andressa e Lauren equacionam agora introduzir outros dois insetos na alimentação: o grilo preto (Gryllus assimilis) e o tenébrio comum (Tenébrio molitor), um tipo de larva do besouro. Além dos pães, as cientistas querem fabricar bolos e barras de cereais e até já criaram uma empresa no ramo.
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