“Olha a minha doutorazinha”, afirma Maria Irene, uma doente oncológica de 79 anos, assim que vê entrar na sua casa a equipa da Unidade de Assistência Domiciliária do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, desta vez composta pela médica Madalena Feio e a enfermeira Francisca Coimbra.
Maria Irene vestiu uma blusa florida para receber a reportagem da agência Lusa e é seguida com o olhar pela filha, a sua cuidadora, que teve de pedir meio-dia de férias no trabalho para poder estar presente.
Há muitos abraços e mãos apertadas. As duas profissionais de saúde sentam-se no sofá enquanto conversam com a doente e aparentemente têm todo o tempo do mundo. Querem saber se dorme melhor e se tem tido dificuldade em respirar. Medem-lhe a tensão arterial e auscultam-lhe o peito.
A septuagenária aproveita cada momento para fazer perguntas e falar das suas maleitas, terminando sempre com um otimista “estou bem”.
“Com um sorriso desses só podia estar bem”, responde-lhe a enfermeira, enquanto lhe faz uma festa nas costas.
Há quase um ano que Maria Irene é seguida pela UAD. Um caso de longevidade que não é único, embora raro. Dada a escassez de pessoal, a equipa prioriza os casos e tenta prestar assistência aos que, aparentemente, têm a doença em fase mais avançada. Mas às vezes o cancro troca as voltas a estes profissionais, por mais habituados que estejam à patologia.
Com a morte por perto, Madalena Feio conta que é na equipa que os seus elementos se apoiam sempre que são confrontados com uma partida menos esperada. A constante discussão dos casos evita que sejam mais vezes surpreendidas.
Na casa de Maria Irene, a atenção da equipa divide-se entre a doente e a cuidadora, que tem sempre questões a colocar e abraços para dar.
No final da consulta, Maria Irene conta como a vinda da UAD à sua casa a impediu de ir para um lar, já que o trabalho da filha não permitia uma presença constante.
“São as minhas queridas. Cá em casa estamos sempre a falar nelas”, disse à Lusa a doente, enquanto olha para a enfermeira: “A minha Francisquinha”.
Maria José, a filha, não contém as lágrimas ao falar do trabalho da UAD. “Sinto-me segura, pois sei que, além das visitas, a equipa está sempre disponível para me esclarecer por telefone sobre a doença da minha mãe ou o efeito de alguns medicamentos”.
Maria Irene veio para casa acamada, impossibilitada de subir os degraus da escada de acesso à sua casa, em Alcântara. Mas o trabalho desenvolvido pela UAD permitiu-lhe que, aos poucos, recuperasse alguma mobilidade e hoje, ainda que com dificuldade, anda sozinha.
Para Maria José, o trabalho desta equipa não é só para a mãe, mas também para si. “É uma ajuda às duas”, disse.
A enfermeira Francisca Coimbra chama-as de guerreiras, o que elas agradecem com um sorriso.
Após a visita, a equipa regressa ao IPO. Espera-as o resto de um dia de trabalho que começou bem cedo, com uma reunião para discussão de casos e durante a qual as profissionais analisaram os casos, bem como a lista de espera para novos doentes.
Atualmente, esta lista tem oito doentes, sendo o pedido mais antigo datado de 31 de agosto. Bem mais do que as 48 horas preconizadas nas recomendações de qualidade, mas a falta de pessoal não o permite.
Para poder responder aos casos referenciados pelos médicos a equipa precisa de mais um médico a tempo inteiro, um a tempo parcial e um enfermeiro. Isto no horário atual entre as 08:00 e as 16:00.
A UAD atende, em média, 20 doentes, num total de 100 anuais. Todos eles moradores no concelho de Lisboa, seguidos no IPO e a sofrerem de doença avançada, progressiva e incurável.
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