O tema proposto pelo Conselho Internacional de Enfermeiros, “Os nossos enfermeiros. O nosso Futuro”, convida-nos a refletir e a definir o que pretendemos para a enfermagem do futuro, capacitando-nos para enfrentarmos os desafios globais de saúde e melhorar a saúde global para todas as pessoas em todo o Mundo.
Ao longo da sua história, a enfermagem e os enfermeiros têm tido a capacidade de se adaptarem às mudanças, mantendo o seu foco no cuidado à pessoa e tudo leva a crer que assim continuará.
Temos consciência de que a evolução tecnológica, a evolução do conhecimento científico, as “doenças da civilização”, o surgimento de novas profissões, os constrangimentos económicos, as alterações climáticas, os fenómenos migratórios, a poluição atmosférica, o aumento da esperança média de vida e a diminuição da taxa de natalidade são, entre outros, alguns dos desafios com os quais os enfermeiros se estão e continuarão a deparar.
Temos já modelos de robot a ser utilizados nalguns procedimentos cirúrgicos, outros que dão apoio a idosos e a pessoas com necessidades especiais, no transporte autónomo de refeições, de medicamentos, etc.
Também as aplicações de apoio aos profissionais de saúde e aos cidadãos têm tido um grande desenvolvimento e há ainda um enorme potencial a explorar.
Em constante desenvolvimento e com um crescimento cada vez mais rápido, o conhecimento científico que nos coloca desafios de atualização permanente
As “doenças da civilização”, com causas associadas aos novos padrões de vida – sedentarismo, fast-food, etc., crescem a ritmos muito preocupantes. Portugal é um dos países com piores indicadores relativamente ao excesso de peso. Em 2014, 32% das crianças com 11 anos de idade tinham excesso de peso, de acordo com a OMS. É ainda esta mesma organização que estima que, em Portugal, em 2030, 27% dos homens e 26% das mulheres serão obesos.
Segundo dados da Direção-Geral da Saúde, a taxa de prevalência da hipertensão arterial situa-se nos 26,9%. Muitos dos casos estão associados a diabetes e a valores elevados de colesterol.
A diabetes cresce, segundo o Observatório Nacional da Diabetes, a um ritmo de 168 novos casos por dia e ocorrem 12 mortes diariamente por esta doença (dados relativos ao ano de 2015).
Quanto à depressão, os dados relativos a 2016 apontavam para que 20% da população portuguesa sofresse deste distúrbio.
Cada vez haverá mais idosos e mais pessoas a viverem sozinhas necessitando de apoio para as suas atividades de vida diária. A profissão de técnico auxiliar de saúde está aprovada e tem enquadramento no quadro nacional de qualificações e também no quadro europeu de qualificações. Como os iremos acolher e integrar na equipa?
Os constrangimentos económicos são um fator que em muito influencia a disponibilidade de recursos humanos e materiais. Associado ao aparecimento de novas profissões que possam eventualmente “ocupar algum espaço dos enfermeiros” e terem remunerações mais baixas poderá ser um fator de risco para a profissão?
Ao aumento da temperatura ambiente associa-se uma subida do nível da água do mar, uma redução dos caudais de água que podem chegar até 40%, uma diminuição da precipitação total – embora mais concentrada – e daí o risco de inundações e o aumento do número de incêndios florestais. Ainda segundo dados da QUERCUS, poderá ocorrer a extinção de 60 a 80% das espécies no Sul da Europa e Mediterrâneo com redução das culturas agrícolas, o que poderá provocar riscos relativos à segurança alimentar e aumento da população subnutrida.
Os fenómenos migratórios são um dos maiores desafios de saúde pública a nível mundial. O impacto dá-se não só nos países de acolhimento, mas também nos de trânsito e de origem. O contacto com diferentes culturas, diferentes formas de encarar a saúde a doença, o nascimento e a morte, e ainda a maior suscetibilidade a determinadas doenças leva à necessidade de refletir sobre políticas e estratégias de saúde que sejam integradoras, mas também sustentadas.
Segundo a OMS a poluição do ar pode ser responsável por um aumento de doenças respiratórias – incluindo o cancro do pulmão – e pelo aumento da ocorrência de Acidente Vascular Cerebral e de doença cardíaca.
O aumento da esperança média de vida é um bom indicador, mas que nos traz necessidades de adaptação. É importante perceber a diferença entre esperança média de vida e os anos de vida saudável após os 65 anos. É conhecida a relação entre as condições e hábitos de vida e os ganhos de anos em vida saudável. O aumento da esperança média de vida também condiciona mais co morbilidades e maior dependência.
Uma baixa taxa de natalidade é um dos fatores a contribuir para o envelhecimento da população, com consequências no aumento de custos na saúde. Será prudente que se reflita e se desenvolvam programas de saúde preventiva, que são sempre mais baratos do que os curativos, reduzindo assim os gastos em saúde.
Estes são desafios com que nos confrontamos, mas mais do que desafios devem considerar-se oportunidades para a intervenção dos enfermeiros.
Surge aqui um fator de elevada importância que é a definição do ato enfermeiro, claro e que salvaguarde a autonomia da profissão contemplando o que já consta no Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros – REPE. Esta definição foi, finalmente, publicada em Diário da República no dia 8 de Julho de 2022, constituindo-se como uma ferramenta essencial na definição daquilo que são as suas competências.
Para terminar, deixo algumas questões para reflexão:
1 – Teremos nós enfermeiros, novas competências para desenvolver?
2 – Será necessário reforçar e aprofundar as competências atuais?
3 – Haverá novos contextos e papeis a explorar?
BIBLIOGRAFIA
WHO, (2020). Desafios de saúde urgentes para a próxima década. https://www.who.int/news-room/photo-story/photo-story-detail/urgent-health-challenges-for-the-next-decade
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