19 de fevereiro de 2013 - 14h46 
A exposição a desreguladores endócrinos, químicos presentes virtualmente em todo o lado e que interferem com o sistema hormonal, tem riscos para a saúde humana e o ambiente, alerta um relatório hoje divulgado por duas agências da ONU.
Realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o relatório sobre químicos desreguladores endócrinos (QDE) conclui que é necessária mais investigação para se perceber melhor estes químicos, de que se conhece apenas "a ponta do icebergue".
“Precisamos urgentemente de mais investigação para obter uma imagem mais completa dos impactos para a saúde e o ambiente dos desreguladores endócrinos”, disse a diretora da OMS para a Saúde Pública e o Ambiente, Maria Neira.
Em causa estão químicos que interferem com o sistema endócrino, cujo funcionamento regula a libertação de hormonas essenciais para funções como o metabolismo, o crescimento e desenvolvimento, o sono e o humor.
Alguns destes químicos ocorrem naturalmente, enquanto outros são sintéticos e podem ser encontrados em produtos como pesticidas, equipamentos eletrónicos, produtos de higiene e cosméticos, assim como em aditivos e contaminantes encontrados em alimentos.
A exposição humana aos QDE pode ocorrer através da ingestão de alimentos, poeiras e água, assim como pela inalação de gases e partículas ou mesmo através do contacto com a pele.
Segundo o relatório agora publicado, que reúne o que a ciência sabe sobre o assunto e é o mais abrangente até hoje, a exposição aos QDE está associada a problemas de fertilidade em jovens rapazes, cancro da mama nas mulheres, cancro da próstata no homem, assim como hiperatividade e défice de atenção em crianças.
Uma das maiores preocupações dos autores do relatório é a multiplicação de substâncias químicas presentes na vida quotidiana e o facto de o ser humano ter contacto com elas ainda antes de nascer.
"As crianças são as mais vulneráveis, mas a exposição começa no útero, o que pode causar problemas e doenças 20 anos depois da exposição fetal", disse Maria Neira.
Os autores do relatório alertam ainda que apenas se conhece "a ponta do icebergue" dos QDE, tanto porque apenas uma pequena fração das centenas de milhares de químicos sintéticos atualmente existentes foram estudados para se saber se têm impacto endócrino, como porque muitos químicos existentes em produtos consumíveis não são identificados pelos fabricantes.
"É hoje claro, de estudos em humanos, que estamos expostos a centenas de químicos ambientais ao mesmo tempo. É hoje virtualmente impossível examinar uma população não exposta em todo o mundo. As tendências indicam que há um peso crescente de doenças endócrinas em todo o globo em que os QDE terão um papel importante, e as futuras gerações também poderão ser afetadas", pode ler-se no documento.
A OMS e o PNUA apelam, por isso, a mais investigação: "Quantos QDE existem? De onde vêm? Qual a exposição humana e na vida selvagem? (...) Todas estas perguntas precisam de resposta".
Lusa