É sem querer alarmar que escrevo, mas vivemos tempos em que não podemos negligenciar os riscos para a saúde associados ao que comemos. Da contaminação microbiológica por bactérias, vírus ou parasitas, aos riscos físicos (vidros, materiais de isolamento, microplásticos…) e químicos, como a exposição a resíduos de pesticidas, aditivos alimentares (conservantes e corantes, alimentos ultraprocessados, geneticamente modificados) e até as deficiências nutricionais resultantes de dietas desequilibradas, a lista de riscos –a que estamos inconscientemente expostos – é longa.

Aliás, frequentemente estamos expostos a um “cocktail de contaminantes” presentes nos alimentos. E sabemos ainda muito pouco sobre o efeito tóxico destas misturas complexas.

Para reduzir estes riscos é essencial adotar práticas seguras de manipulação e preparação dos alimentos, privilegiar alimentos frescos e uma dieta variada e ficar atento aos rótulos e informações nutricionais. Precisamos por isso obrigatoriamente de literacia nutricional.

Mesmo assim, teremos de viver com a lotaria dos genes e como estes se relacionam com as substâncias que comemos. Teremos ainda de estar atentos à evolução científica que poderá pôr em causa muito daquilo que damos como verdades adquiridas. O que dizer da descoberta sombria feita por um advogado, Robert Bilott? Ele revelou e tem litigado contra as empresas que despejavam um produto químico tóxico, o ácido perfluorooctanoico (PFOA), nas águas das comunidades rurais da Virgínia, nos Estados Unidos da América. A história está contada no filme Dark Waters - O Preço da Verdade, que recomendo que vejam.

Esta descoberta é talvez uma das provas mais recentes (e trágicas) de que o estudo da toxicologia tem um impacto significativo nas nossas vidas e na sociedade, fomentando Uma Só Saúde, através da proteção da saúde humana, animal e do meio ambiente. É também a evidência de que temos de continuamente monitorizar o que comemos. E até com o que confecionamos as nossas refeições. O PFOA é um composto chave da produção do Teflon, que é usado como revestimento antiaderente em utensílios de cozinha como frigideiras. E é também uma das principais causas cientificamente comprovadas de neoplasia renal e testicular, problemas congénitos e de outras doenças graves. Já neste ano de 2024, a indústria produtora de Teflon foi punida a ter de pagar indeminizações históricas pela contaminação ambiental do PFOA – que dura há mais de 60 anos!

Estes efeitos tóxicos eram conhecidos dos seus produtores, mas que os mantiveram escondidos do público. Veja-se como se hipotecou tanto para o futuro…

Na União Europeia também se discute a hipótese de banir estes químicos. Mesmo com todas as restrições e proibições, os “químicos eternos”, como é o caso deste PFOA, ficarão entre nós por gerações porque não se decompõem facilmente no ambiente e estão em quase tudo o que usamos no dia a dia: embalagens para alimentos, vestuário e têxteis, cosméticos e produtos de higiene… e, claro, as frigideiras.

Tenho a esperança de que, este Dia Mundial da Alimentação, que se assinala a 16 de outubro, marque o início do investimento em formação em investigação científica em Toxicologia Alimentar. Para que não se hipoteque mais o futuro da nossa saúde.