O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, Fernando Araújo, afirmou que os números divulgados hoje sobre tempos de espera para consultas e cirurgias “são errados e constituem uma distorção grosseira da realidade”.
Numa conferência de imprensa conjunta com a maioria dos responsáveis pelos hospitais do Norte, Fernando Araújo disse que, “perante dados tão inverosímeis, lamenta-se profundamente que não tenha havido um esforço de validação dos mesmos, o que pode traduzir incompetência ou má fé”.
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar S. João, António Ferreira, admitiu mesmo recorrer a medidas “quer do âmbito judicial como criminal”, se for caso disso.
Em causa estão os dados divulgados esta manhã pelo Observatório dos Sistemas de Saúde, que indicam que a maioria dos utentes esperou por uma consulta hospitalar, em 2010, mais que o tempo máximo de espera garantida, existindo casos em que a demora foi superior a três anos e meio.
Segundo Fernando Araújo, na região Norte, em abril, os tempos de espera (mediana) de uma consulta externa eram de 80 dias (2,7 meses) e para uma cirurgia de 84 dias (2,8 meses).
“Em relação a casos hoje citados”, acrescentou, “a disparidade com a realidade é constrangedora”.
O JN avançou na sua edição de hoje que os doentes do Hospital de S. João tiveram que aguardar, em 2010, por exemplo, 1.030 dias por uma consulta de gastrenterologia, acrescentando que este hospital e o de Santo António, no Porto, são os que têm “piores resultados do país”.
O tempo mediano de uma consulta de gastrenterologia no S. João, disse Araújo, “é de 90 dias e nenhum doente espera mais do que um ano por uma consulta nesta especialidade”.
Já quanto à consulta em urologia no Hospital de Santo António, frisou, “a demora média é de 2,2 meses e nenhum doente espera mais de um ano por uma cirurgia”.
O responsável lamentou que “nem a ARS/Norte nem os hospitais da região tenham sido ouvidos” pelo Observatório e recordou o relatório apresentado em março, pela tutela, em que “a região Norte é a que apresenta menores tempos de espera para cirurgia no país, logo a seguir ao Algarve e a que apresenta uma maior produção cirúrgica a nível nacional”.
António Ferreira, do Hospital S. João, afirmou que “a evolução na redução [dos tempos de espera] é notável” e que aquela unidade hospitalar irá analisar o relatório em causa e depois “decidirá” então avançar para tribunal.
Já o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto, Pedro Esteves, garantiu que, em 2010, o Santo António não teve nenhuma consulta com mais de 365 dias de espera.
Considerando que os dados do observatório são “altamente penalizantes para a região”, Pedro Esteves criticou “que se faça algum folclore com estes valores e não se veja o que tem sido feito” para melhorar a situação.
Fernando Araújo quer agora entender “a metodologia” utilizada pelo observatório, admitindo, porém que, ao contrário “da base sólida” que existe para as cirurgias - o SIGIC -, “o sistema informático para as consultas ainda contém muitos problemas”.
Nesta conferência de imprensa apenas faltaram três administradores dos 15 hospitais do Norte.
15 de junho de 2011
Fonte: Lusa/SAPO
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