2 de dezembro de 2013 - 15h25
A maior parte das pessoas surdocegas em Portugal é constituída por homens, adultos, solteiros, sem qualquer nível de escolaridade e estão reformados, embora se desconheça o número total, por haver uma subnotificação destes casos, revela um estudo.
Estes e outros dados serão apresentados terça-feira, quando se assinala o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.
A apresentação decorre no âmbito de uma iniciativa organizada pelo Instituto Nacional para a Reabilitação (INR) e a Casa Pia de Lisboa, que pretende também promover o Congresso Nacional de apresentação do projeto “Surdocegueira: Um modelo de intervenção”.
Em declarações à agência Lusa, a responsável pelo estudo sobre as pessoas surdocegas, a investigadora Tânia Gaspar, explicou que o trabalho foi feito através de um levantamento junto das várias instituições nacionais que trabalham com esta população.
“Há mais pessoas, mas não conseguimos ter [acesso a] todas elas, [sobretudo] por causa do diagnóstico”, afirmou a responsável, que deu como exemplo pessoas que “são surdocegas, mas como não têm a total cegueira ou a total surdez, não são identificadas” como tal.
Em relação aos mais idosos, também acontece as pessoas relacionarem a cegueira ou a surdez com a idade e não se identificarem como surdocegas, explicou Tânia Gaspar.
“A grande problemática, para não termos conseguido aceder à amostra total do país, foi efetivamente o diagnóstico, [porque] ainda não está generalizado”, apontou a investigadora.
O levantamento feito junto das instituições mostrou existirem 135 pessoas surdocegas, na sua maioria homens (60%), adultos (45,9%) ou jovens adultos (24,4%).
Maioritariamente são portugueses (94,6%) e, quanto à origem da doença, dividem-se em três grandes grupos: 31% nasceu surdocego ou ficou surdocego até aos dois anos de idade, 31% perdeu a cegueira e a visão depois dos dois anos de idade, e 30% nasceu surdo e só depois perdeu a visão.
Por grupo etário, é possível verificar que 47% das crianças e adolescentes e 46,8% dos jovens adultos nasceram surdocegos ou ficaram assim até aos dois anos.
“Em todas as faixas etárias, a surdez profunda é igual ou superior a um terço da amostra”, revela o estudo, sendo de 60% nas crianças e adolescentes e de 66,7%, nos jovens adultos.
Estas pessoas são maioritariamente solteiras ou divorciadas, vivem a maior parte do tempo com a família (56,5%), mas há também uma faixa de 32,8% que passa grande parte do tempo numa instituição.
Quando estão em casa, um total de 33,4% fica sozinho, enquanto 40,5% se encontra com os pais.
Por outro lado, foi possível verificar que mais de um terço (37,2%) não tem qualquer nível escolar, número que aumenta para os 66,7% nos jovens adultos. Apenas 6,9% dos inquiridos tem uma licenciatura.
Grande parte das crianças e adolescentes tem, no entanto, o primeiro ciclo (26,1%) ou terceiro ciclo (26,1%).
Em matéria de desafios, Tânia Gaspar aponta em primeiro lugar o diagnóstico, tendo em conta os diferentes graus de surdocegueira, e depois a prevenção, sublinhando ser importante saber o que provocou a surdocegueira.
“As duas grandes mensagens são que estas são pessoas como as outras, que se podem desenvolver de uma maneira positiva, se tiverem os apoios e o acompanhamento o mais precocemente possível”, afirmou a investigadora, insistindo na questão do diagnóstico e da sua não generalização, como o fator que mais “dificultou o trabalho”.
Tânia Gaspar alertou ainda para o que significa haver pessoas que ainda não estão diagnosticadas: não estão a ter os cuidados necessários, ou têm casos de cegueira ou visão ainda pouco afetados, que poderiam ser trabalhados e não estão a ser.
Lusa
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