18 de janeiro de 2013 - 11h46
A Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF) considerou hoje alarmistas as notícias que associam mortes à toma de uma pílula, lembrando que “milhões de mulheres” beneficiam destes medicamentos anticoncecionais sem registo de quaisquer complicações.
No domingo, a agência de medicamentos francesa relacionou a pílula Diane 35 a quatro mortes por trombose venosa, depois de uma investigação que começou com a denúncia de uma jovem vítima de um acidente cardiovascular cerebral.
“Todas estas notícias são alarmistas, são reportes de casos muito isolados. Há muitos milhões de mulheres a tomarem esta pílula ou outras e que não têm esse tipo de complicações”, defendeu Luís Graça, presidente da SPOMMF, em declarações à agência Lusa.
O médico admite que haja demasiadas mulheres a tomarem a pílula Diane 35 sem necessidade, recordando que esta pílula tem um componente que a torna indicada para mulheres com excesso de acne ou de pelos.
Por isso, tem uma potência de estrogénio mais elevada do que as restantes, tendo, assim, riscos adicionais em relação às outras, mas que estão avaliados e estudados.
“Há muitas mulheres a tomarem a Diane sem terem indicação formal para isso”, disse o médico, avisando que não se deve tomar esta pílula sem a indicação do médico.
“Os medicamentos têm o seu próprio público-alvo. A Diane deve ser usada nas mulheres que têm indicação para a fazer”, justificou Luís Graça, que é também ginecologista obstetra no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Contactada pela Lusa, uma fonte da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde disse que está a acompanhar o caso com a Agência Europeia do Medicamento (EMA).
“Qualquer que seja a incidência deste caso e qualquer medida a ser tomada será sempre a nível da Agência Europeia do Medicamento e concertada com todos os parceiros envolvidos”, adiantou a fonte do Infarmed.
A Agência de Segurança Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (ANSM) francesa relacionou, no domingo, a pílula Diane 35 a quatro mortes por trombose venosa, depois de uma investigação que começou com a denúncia de uma jovem vítima de um acidente cardiovascular cerebral.
O medicamento, que pertence ao laboratório Bayer, é uma pílula contracetiva, mas é vulgarmente utilizado para o tratamento contra o acne.
Em dezembro do ano passado, uma jovem entrou com uma ação em tribunal por ter sofrido um acidente cardiovascular cerebral (AVC) que considerou estar relacionado com a toma daquela pílula.
Segundo a ANSM, nos últimos 25 anos registaram-se quatro mortes que são "atribuíveis a trombose venosa relacionada com Diane 35", noticiou no domingo a AFP.
No dia 11 de janeiro, a ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine, pediu à União Europeia que limitasse a prescrição de pílulas anticoncecionais de terceira e quarta geração e anunciou que a França iria adotar um mecanismo para limitar o uso desses anticoncecionais.
Também a Sociedade Portuguesa da Contraceção (SPC) já veio defender que as pílulas contracetivas são dos medicamentos “mais estudados” e que não existem razões para as mulheres deixarem de a tomar, tendo reforçado esta posição num comunidao hoje divulgado.
A evidência científica é de que o risco de tromboembolismo venoso nas mulheres que não utilizam a pílula é de quatro ou cinco casos para cada 10 mil mulheres em idade reprodutiva e nas utilizadoras de pílula é de nove ou dez em cada dez mil, segundo informações avançadas pelo SPC.
Lusa