"Podemos estar rodeados de médicos, mas se não temos os meios necessários para socorrer um cidadão perante um episódio de morte súbita, a situação não se vai resolver", sintetiza desta forma o flagelo da morte súbita cardíaca em Portugal, João Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC).
Ontem, um homem de 30 anos que treinava em um ginásio de Lisboa morreu vítima de uma paragem cardiorespiratória.
Em Portugal ocorrem cerca de 10.000 casos de paragem cardiorrespiratória por ano. Segundo dados do INEM, apenas 3% das vítimas sobrevive, o que reflete lacunas do nosso sistema de socorro pré-hospitalar.
Falta de cultura de socorro
"Não existe uma cultura de socorro enraizada na sociedade portuguesa e, segundo o INEM, em 57% das paragens cardiorrespiratórias presenciadas não é realizada qualquer manobra de reanimação até chegada do socorro", alertam os médicos da SPC em comunicado.
"A área da prevenção da morte súbita cardíaca, no entender dos cardiologistas, está longe de ter uma resposta adequada e é, por isso, um dos domínios onde ainda há muito por fazer. Esta é seguramente uma das áreas em que é possível ter os maiores ganhos em saúde. Infelizmente, e apesar de a Lei estar a evoluir no sentido de combater esta realidade, e de termos um Serviço de Emergência Médica satisfatório, de qualidade e que cobre todo o panorama nacional, um cidadão que sofra um episódio de morte súbita ainda está votado à sorte: à sorte quanto ao local onde decorre o episódio e à sorte de quem está por perto", lê-se ainda na nota.
Apenas alguns minutos
Se o coração parar, há apenas um hiato de apenas alguns minutos para fazer um conjunto de manobras, no tempo certo, com o apoio necessário para poder salvar uma vida. É nestes minutos que muito ainda está por fazer.
A cadeia de sobrevivência, isto é, o conjunto de manobras que deverão ser efetuados quando uma pessoa sofre de um episódio de morte súbita, prevê os seguintes passos: reconhecer que a vítima está em paragem cardiorrespiratória, ligar 112, iniciar de imediato as manobras de Suporte Básico de Vida, aceder e utilizar um Desfibrilhador Automático Externo (DAE) (necessário na maioria dos casos de morte súbita) e manter as manobras até chegada das equipas do INEM que depois continuará os cuidados pós-ressuscitação.
"Se estes passos não forem executados correta e atempadamente a possibilidade de sobrevivência diminui muito e rapidamente", frisam os médicos.
O que fazer perante um episódio de morte súbita?
Quando ocorre um episódio de morte súbita, o impulso é ligar o 112, o que, sendo crucial, não basta. Quando ocorre um episódio de morte súbita, o tempo necessário para que ocorra uma lesão cerebral irreversível pode ser inferior a 5 minutos e o INEM raramente chega a tempo de evitar o pior.
É nesses momentos que a probabilidade de alguém sobreviver, sem uma lesão cerebral, pode depender de si. Se cada um de nós soubesse manobras de Suporte Básico de Vida (SBV), inúmeros casos de morte súbita poderiam sido evitados.
O SBV é conjunto de medidas utilizadas para restabelecer a vida de uma vítima em paragem cardio-respiratória. O SBV é vital até a chegada do SIV (Suporte intermediário de vida - transporte até o hospital). Um rápido SBV proporciona um incremento das hipóteses de sobrevivência.
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