“É importante alertar os cuidadores sobre o impacto que os medicamentos de uso humano têm na saúde dos seus animais de companhia. Tratar bem os animais também significa ser consciente dos efeitos que estes produtos provocam na sua saúde”, explica o José Gómez, médico veterinário responsável naa AniCura Ibéria.
Em alguns casos, cães e gatos podem ingerir medicamentos acidentalmente. Para evitar que tal aconteça, o recomendado é guardar os medicamentos em locais onde eles não os consigam alcançar, como em gavetas ou armários fechados, mantendo-os sempre nas embalagens originais para prevenir lapsos, e não deitar medicamentos fora do prazo de validade no lixo comum.
O metabolismo dos animais de companhia é diferente do metabolismo humano, pelo que os tempos de tolerância ou de eliminação de substâncias, neste caso, de medicamentos, são muito diferentes, e a “automedicação” pode ter consequências potencialmente fatais. Ainda que o princípio ativo de determinado medicamento possa ser o mesmo, geralmente, os medicamentos de uso humano tem uma concentração muito superior à necessária para cães e gatos.
Uma das principais causas de internamento de animais de companhia está relacionada com a ingestão de anti-inflamatórios e paracetamol não adequados aos animais, seja por toxicidade ou por sobredosagem, gerando lesões digestivas, renais, hepáticas e/ ou sanguíneas, em alguns casos irreversíveis.
O contacto prolongado com determinados medicamentos pode também resultar em problemas para a saúde, como é o caso de pomadas e outros fármacos usados pelos cuidadores e aos quais o animal está exposto. “É fundamental estar alerta para que os animais de companhia não estejam em contacto permanente com medicamentos de uso humano. Na maioria dos casos, falamos de situações que podem ser evitadas se os cuidadores se mantiverem vigilantes. Por isso, é importante que estejam conscientes destes riscos”, remata o José Gómez.
Em caso de dúvida ou de contacto acidental do animal de companhia com um medicamento de uso humano, os cuidadores devem procurar uma urgência veterinária. O médico veterinário realizará os exames necessários para conhecer o nível de contaminação com a substância tóxica, e orientará o cuidador para o tratamento e medidas necessárias para reverter a situação, nos casos em que é possível.
Margarida Cid, médica veterinária do AniCura Restelo Hospital Veterinário, lembra que, “apesar da cada vez maior consciencialização, continuam a surgir casos de ingestão ou contacto com medicamentos de uso humano, tanto em cães como em gatos”.
É o caso de Jerry, um gato DSH macho, com três anos, que, ao magoar-se no membro anterior esquerdo depois de saltar de um móvel, começou a coxear. O cuidador decidiu dar-lhe paracetamol em xarope, indicado para crianças. O animal deu entrada no Serviço de Urgência pouco tempo após ingestão do xarope com dificuldade respiratória severa, mucosas cianóticas e prostrado. Foi colocado a oxigénio e administrado sedativo para se manter tranquilo. As análises acabaram por revelar alterações das enzimas hepáticas e administrou-se acetilcisteína e tratamento de suporte com fluidos. “Felizmente a dose de paracetamol ingerida tinha sido baixa e em 48 horas o Jerry recuperou”, lembra Margarida Cid.
O mesmo aconteceu a Bob, um labrador retriever de seis meses. Bob ficou sozinho em casa e conseguiu abrir a porta do armário que guardava os medicamentos e roer um frasco de suplementos vitamínicos, ingerindo praticamente todo o seu conteúdo de cápsulas. Foi levado à urgência pela cuidadora e, após um RX, decidiu induzir-se o vómito medicamente. Foi-lhe administrado carvão ativado para prevenir a restante absorção e o caso resultou num internamento de 72 horas para tratamento de suporte.
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