A investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente falava à Lusa a propósito da participação na terceira edição da National Geographic Summit, a primeira a realizar-se no Porto, a 29 abril, subordinada ao tema “Planeta ou Plástico?”.
Paula Sobral, que desenvolve investigação em microplásticos e lixo marinho desde 2008, esclarece que um dos principais problemas da poluição dos oceanos pelos plásticos é que este material “não desaparece no ambiente”, mas, ao mesmo tempo, “vai-se dividindo em pedaços cada vez mais pequenos, disponíveis para serem ingeridos por vários tipos de animais marinhos”.
“Isto tem efeitos ao nível dos comportamentos do organismo dos animais. Estamos a falar de animais que ingerem partículas contaminadas de aditivos de plástico”, descreveu.
As imagens da campanha de alerta para o lixo marinho do Oceanário de Lisboa
Para a especialista, “tem de haver uma mudança radical” perante o plástico e o de “uso único tem de acabar mesmo”.
“Enquanto o papel se degrada e desaparece, o plástico persiste durante séculos no ambiente. Nem sabemos ao certo quando desaparecerá”, alertou.
Por isso, apesar da “vontade de limpar” o fundo dos oceanos e de livrar as praias de marés de plástico, a especialista avisa que está em causa um material “de má qualidade para ser reciclado”.
É complicado “dar utilização ao plástico que se retira dos oceanos”, assegura.
De acordo com Paula Sobral, “é um material de reciclagem muito difícil, para não dizer impossível”.
Quanto à redução do plástico descartável, a mensagem da investigadora é que “temos de ir tentando, com a esperança de que se consiga, pelo menos, reduzir”.
Paula Sobral compara o lixo que em cada casa se produzia há décadas, essencialmente “orgânico” e no qual apenas uma parte “residual” dizia respeito a “embalagens”, e o cenário atual, com “a maior parte do lixo” a dizer respeito às embalagens, “sobretudo plástico”.
A especialista explica que o problema da poluição causada pelo plástico se “insinuou lentamente”, pelo menos desde finais dos anos 90 do século passado, mas esteve “muito tempo longe da vista”.
“De repente, vemos um planeta cheio de plástico e, nos últimos anos, houve uma intensificação do interesse, até porque toda a gente percebe que é um problema”, esclareceu.
Paula Sobral sustenta que “a indústria tem um papel importantíssimo” no problema “e está apostada em ser parte da solução”.
Falta, contudo, “uma solução conjunta” e “uma ação concertada em várias vertentes”.
Uma das “dificuldades”, assume, “é por todos os setores a dialogar”.
“Este é um problema que facilmente se reconhece, mas só uma solução conjunta entre governos, indústria, retalhistas e consumidores pode conduzir a uma situação que nos satisfaça”, afirma.
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