Mais de metade das crianças com menos de cinco anos tem excesso de peso, uma realidade “preocupante” que mostra que estamos a falhar na prevenção da obesidade, alerta uma especialista da Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação.
Os resultados constam de um estudo realizado por esta instituição científica, com representatividade nacional, que mostrou que as crianças e adolescentes apresentam peso superior, altura inferior e índice de massa corporal superior aos valores de referência usados pela Direção Geral da Saúde, sendo esta prevalência mais elevada nos rapazes (32,5%) do que nas raparigas (24,6%).
De acordo com o estudo, a prevalência de excesso de peso é superior nas crianças mais novas, sendo de 57,6% entre os zero e os 2 anos, 49,1% dos 3 aos 5 anos, de 31,9% dos 6 aos 9 anos e de 17,7% entre os 10 e os 13 anos.
Para a nutricionista Maria Daniel Vaz de Almeida, uma das coordenadoras do estudo, esta prevalência de excesso de peso nas crianças é mais preocupante, pelo risco de se “vir a tornar crónica e trazer com ela todo um cortejo de doenças e de má qualidade de vida”.
“Estes dados indicam que estamos a falhar na prevenção da obesidade. Será necessário haver uma política que identifique a obesidade como um problema de saúde pública e sobretudo prevenir e parar antes que comece”, afirmou a especialista que defende uma política nutricional integrada com vários ministérios.
Para Maria Daniel Vaz de Almeida, não basta fazer campanhas de sensibilização, pois estes resultados demonstram que tem que se atuar ao nível da oferta alimentar nas escolas e de proporcionar mais espaço para uma vida mais ativa.
“Sabemos que a maior parte das pessoas até consegue identificar o problema, mas há aqui qualquer coisa que falha. É preciso ver como se traduz aconselhamento numa vida mais saudável e mais ativa”, acrescentou.
A responsável não esconde preocupação com as dificuldades económicas que o país atravessa, acreditando que a obesidade vai disparar nos próximos tempos.
“Iremos assistir provavelmente a um aumento de obesidade, por causa dos produtos mais ricos em açúcar que são mais baratos. É um paradoxo, mas vai haver mais obesidade com as pessoas a comer pior, a optar por uma oferta alimentar com densidade energética muito elevada, mas mais barata do que fruta e produtos hortícolas”, alerta.
Ao nível dos adultos, o mais surpreendente para a nutricionista foi constatar que se verificou um decréscimo de obesidade e excesso de peso nas mulheres, “o que é bom indicador”.
“Nos homens mantém-se a tendência ou sobe, sobretudo a partir dos 30 anos”, uma realidade que a responsável explica pelo facto de as mulheres serem mais sensíveis e haver uma maior pressão social quanto à imagem corporal e ao peso.
O estudo mostra que entre os adultos, 38,2% das mulheres e 64,5% dos homens têm excesso de peso, embora seja entre o sexo feminino que se regista maior risco cardiovascular (31% mulheres e 28% homens) devido aos valores de perímetro da cintura.
Relativamente à distribuição geográfica, os Açores é a região com maior prevalência de excesso de peso entre as crianças e o Algarve a região com menor prevalência.
No que respeita aos adultos, os piores resultados encontram-se nos Açores, na Madeira e no Alentejo.
Maria Daniel Vaz de Almeida sublinhou que relativamente aos adultos os dados estão completos, mas em relação às crianças são ainda parciais, faltando os da “ingestão alimentar”, que deverão estar prontos dentro de dois meses.
Estes dados permitirão “identificar grupos de risco e perceber por que é que a realidade é esta”.
19 de dezembro de 2012
@Lusa
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