Katie tinha 9 anos quando sentiu o seu joelho a estalar.

Na altura, a sua mãe Carol não ficou muito preocupada, afinal de contas, Katie era jovem ativa e irrequieta, que dedicava grande parte do seu tempo ao desporto, nomeadamente à natação, pelo que pensou que a dor que a sua filha sentia seria devido a uma entorse.

Ainda assim, Carol levou Katie ao médico de família, que aconselhou a jovem a não praticar natação durante uns dias, pois o que ela precisava era de repouso.

Mas as semanas passaram e a dor continuava presente; já apreensiva, Carol recorreu a um especialista, que pediu para a jovem ser sujeita a um raio-X.

“O radiologista demorou imenso tempo a fazer o exame. Eu estava a observá-lo e vi-o a tirar muitas fotografias, a olhar com muita atenção para os exames, e aí comecei a achar que algo de errado se passava. A certeza chegou quando, após o exame, me disseram que iriam marcar uma consulta de urgência para o dia seguinte, pois os médicos queriam falar comigo e com o meu marido”, relembra Carol.

Carol e Katie, antes de a menina ser diagnosticada
Carol e Katie, antes de a menina ser diagnosticada Carol e Katie, antes de a menina ser diagnosticada créditos: DR

Quando regressaram ao hospital, Carol e o seu marido, Grant, receberam uma notícia pior do que aquela que haviam imaginado: os médicos tinham observado uma mancha escura no joelho de Katie e suspeitavam que poderia ser cancro.

Quase de imediato, Katie foi consultada por um cirurgião que lhe marcou uma biópsia urgente.

“A minha filha estava muito confusa. Nós tínhamos decidido que não lhe iríamos dizer a verdade naquela altura, não a queríamos preocupar. Mas, quando passado uma semana soubemos o que realmente se passava com a Katie, não lhe conseguimos esconder mais nada”.

Os médicos diagnosticaram Katie com um osteossarcoma, um tipo raro e agressivo de cancro ósseo.

“Dizer à minha filha que ela tinha cancro foi a coisa mais dolorosa que alguma vez fiz. Foi o pior momento da minha vida”, conta, emocionada, Carol.

“Ela ficou apática e só pediu para que lhe tirássemos aquilo. Ela só queria ficar sem dores. Nesse mesmo dia descobrimos que ela tinha mandado uma mensagem a uma das suas amigas, onde dizia que achava que ia morrer”.

Um duro tratamento

Rapidamente, Katie começou a ser submetida a duros tratamentos de quimioterapia.

“Estar naquele hospital e ver todas aquelas crianças, a maioria delas carequinhas, afligiu muito a minha filha. A ela e a nós, que só rezávamos para que a Katie não tivesse que ser entubada ou alimentada com tubos. Achávamos que não íamos aguentar caso a nossa filha tivesse de passar por aquilo. Mas não há nada que uma mãe, e um pai, não aguente pelos seus filhos”.

Com os tratamentos, o estado de saúde de Katie ficou muito debilitado. O seu cabelo começou logo a cair, o que levou a que a menina o rapasse.

Os médicos apresentaram um plano de tratamento que envolvia a amputação da canela de Katie, que seria substituída por uma barra de metal especial que poderia ser alongada à medida que a jovem crescesse. Apesar de ser uma operação de alto risco, a família tentou ser o mais positiva possível.

Mas quando o dia da cirurgia chegou, surgiu também um novo problema.

A chegada de notícias ainda piores

Uma biópsia descobriu que o cancro de Katie metastisado para as coxas, quadris e coluna vertebral.

“De repente dizem-nos que a nossa filha teria apenas 20% de probabilidade de sobreviver. Foi surreal. Os médicos aumentaram a dose de quimioterapia porque estávamos quase que a travar uma batalha perdida. Mas nem eu, nem o meu marido, nem a minha filha íamos desistir de lutar”.

Com esta nova ronda de quimioterapia, Katie ficou ainda mais debilitada.

“Ficou com úlceras na boca e na garganta que quase a impediam de beber. Eu chorava e dizia-lhe que, se pudesse, trocava de lugar com ela. Mas olha, mesmo naquela aflição e com todas aquelas dores, olhava para mim e dizia-me para eu não pensar nisso, pois não era possível”.

Carol e Grant tomaram a difícil decisão de esconder a gravidade do prognóstico a Katie, porque achavam que a menina não saberia lidar com tudo aquilo que se passava à sua volta. Mas, sem que soubessem, Katie já havia descoberto, por uma enfermeira, o quão doente estava. E, tal como os pais, manteve o que sabia em segredo, pois não os queria magoar.

O melhor presente

Depois vários meses de quimioterapia, e pouco antes do Natal, Katie fez um exame minucioso para que os médicos percebem como estava a correr o progresso da doença.

“Um dia, estávamos nós no hospital, quando vimos o oncologista da Katie a correr na nossa direção. ‘Tenho uma notícia incrível. Os exames mostraram que já não existem vestígios de cancro na espinha e nos quadris da Katie’”.

“Foi uma sensação de alívio enorme. Embora o cancro ainda estivesse presente na canela e na coxa, a operação já era viável. Foi o melhor presente que recebemos nesse Natal”, diz Carol.

Em fevereiro, pouco antes do seu décimo aniversário, Katie foi sujeita a uma cirurgia de quase 8 horas; os cirurgiões amputaram a perna a partir do meio da coxa, removeram a parte central do cancro, utilizando uma técnica inovadora onde a articulação do calcanhar se transformou num novo joelho. Os médicos esperavam que isso permitisse que Katie continuasse a ter um estilo de vida ativo, algo que dificilmente conseguiria com uma amputação tradicional.

Katie, depois da sua operação inovadora
Katie, depois da sua operação inovadora Katie, depois da sua operação inovadora créditos: DR

Recuperação incrível

“Quando a Katie saiu do bloco operatório foi horrível. Vimo-la ali, cheia de tubos a saírem do seu corpo… a minha menina estava igual às crianças que tínhamos visto quando começámos esta jornada…foi devastador”.

Mas 18 meses depois, a saúde Katie prospera.

A menina faz exames e radiografias regulares para garantir que tudo está a correr pelo melhor, e a verdade é que a jovem está a melhorar a cada dia que passa.

Depois de muita fisioterapia, Katie já consegue andar sem ter de recorrer às muletas; a recuperação está a ser de tal forma favorável, que a jovem voltou aos seus treinos de natação, tendo já conquistado uma medalha de ouro nos Junior and Senior Scottish Disability Sport National Swimming Championships.

Com os olhos postos no futuro, Katie já só pensa em voltar à escola. Para além disso, quer também tornar-se voluntária em instituições de caridade que ajudem crianças com cancro e continuar a explorar o desporto.

A menina, hoje com 10 anos, já só pensa no seu futuro
A menina, hoje com 10 anos, já só pensa no seu futuro A menina, hoje com 10 anos, já só pensa no seu futuro créditos: DR

“Ela tem uma determinação que não é normal para a idade dela. Aliás, uma determinação que não é normal, seja em que idade for. É um orgulho poder dizer que esta guerreira é a minha filha. Eu e o pai dela não podíamos estar mais felizes”, diz Carol.

“Já falámos do que ela quer ser ‘quando for grande’ e ela está indecisa: ou quer ser cirurgiã, para salvar a vida de crianças, tal como os médicos que a acompanharam, ou então quer ser uma atleta paraolímpica! A minha filha é uma força da natureza”, confessa Carol, com um orgulho enorme.

Fonte: Mirror/PIPOP