Valência recebeu a última edição da Jornada de Formação em Gastrenterologia organizada todos os anos pela Aquarius em conjunto com a Universidade Complutense de Madrid, Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Associação Espanhola de Gastrenterologia e Sociedade Espanhola de Nutrição Comunitária.
Mais de 150 médicos internos de Portugal e Espanha, a frequentar internatos médicos nas áreas da Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna e Gastrenterologia reuniram-se para partilhar e conhecer as últimas novidades científicas da área.
José Berkeley Cotter, médico português e presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, destaca que este tipo de eventos "são fundamentais para manter a formação dos médicos e médicos internos dos primeiros anos". "É fundamental debater o que se faz noutros serviços hospitalares de excelência", acrescenta.
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Um dos temas debatidos foi a dispepsia, um patologia que se caracteriza por dificuldades na digestão e que "é caracterizada por sintomas que causam desconforto" na região abdominal e que afetam "20 a 40% da população", nas palavras deste gastrenterologista que é também diretor do Serviço de Gastrenterologia do Hospital Senhora da Oliveira em Guimarães.
"A dispepsia não é tão estudada tanto quanto seria desejável. Hoje, a grande diferença na medicina é que é demonstrativa e não de presunção. Por isso os doentes querem saber o que têm e isso só se consegue com estudos exaustivos. A classe médica deverá estar alertada para este problema e é importante que ponha em prática os novos estudos e metodologias existentes", avisa o especialista.
"Perda de sangue nas fezes, vómitos persistentes, emagrecimento não quantificado e dificuldade na deglutição são alguns dos sintomas de alarme da dispepsia que devem levar as pessoas a procurar um médico", diz ainda. "Quando existem este tipo de sinais, um exame de endoscopia digestiva alta é considerado a primeira escolha. Mas quando não existem este tipo de sinais, é aceitável a realização de procedimentos não-invasivos, como a ecografia e testes bacterianos", acrescenta.
Hidratação no centro do debate
Um organismo que não esteja hidratado não funciona bem. A água é uma substância que cumpre funções importantes no organismo humano e que possui qualidades estruturais e lubrificantes essenciais ao transporte de nutrientes para as células, eliminação de toxinas e regulação da temperatura do corpo humano. Os homens devem consumir em média 2,5 litros de água por dia, as mulheres à volta de dois.
"A hidratação é uma ponte que nos permite falar de vários temas científicos nesta área. A hidratação é mais importante em algumas circunstâncias do que as terapêuticas medicamentosas, nomeadamente em casos de pancreatite aguda", comenta José Berkeley Cotter.
O tratamento da pancreatite aguda nas primeiras 48 horas foi outro dos temas discutidos. Enrique de Madaria, médico da Unidade de Patologia Pancreática do Hospital Universitário Geral de Alicante, salienta que nos últimos anos "o diagnóstico desta patologia aumentou claramente". "Isto pode estar relacionado com o aumento do consumo de álcool e mais excesso de peso", sugere.
A pancreatite aguda é uma inflamação brusca do pâncreas que pode matar e cujas causas mais frequentes são a existência de cálculos na vesícula e/ou vias biliares e também o consumo de álcool em excesso.
"Não existe nenhum tratamento específico para curar o doente com esta patologia. A dor é o principal sintoma. Todos os doentes são tratados com com líquidos intravenosos nas primeiras 48 horas", adianta o clínico espanhol.
Por outro lado, uma desidratação que implique perdas de 2% de massa corporal pode ter implicações fisiológicas graves, afetanto o rendimento físico mas também intelectual. Rafael Urrialde, um dos palestrantes, doutorado em Biologia e diretor de Saúde e Nutrição da Coca-Cola Ibéria, recorda que uma hidratação que peque por defeito prejudica o estado de ânimo, a coordenação visual e motora, assim como a atenção e a memória a curto-prazo.
"A desidratação pode alterar a atividade cerebral e o funcionamento de determinadas estruturas cerebrais, como os neurotransmissores no processo cognitivo, e é uma das causas preveníveis de mortalidade e morbilidade", conclui.
O SAPO viajou para Valência a convite da Aquarius
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