
Nelson Carvalho, Presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV), revela em entrevista exclusiva ao Healthnews as prioridades estratégicas para o seu mandato que se estende até 2026. O novo líder da SPPCV destaca três eixos fundamentais: responsabilidade com a comunidade, enfoque científico e valorização do cirurgião de coluna. Carvalho anuncia iniciativas inovadoras, como a Bolsa de Investigação de cinco mil euros, o Diploma Ibérico e bolsas de formação profissional. A SPPCV prepara-se ainda para organizar importantes congressos internacionais e promover a colaboração multidisciplinar no tratamento de patologias da coluna vertebral.
HealthNews (HN) – Como define as prioridades estratégicas para o seu mandato como presidente da SPPCV e que metas específicas pretende alcançar até 2026?
Nelson Carvalho (NC) – Definiria 3 prioridades estratégicas.
- Responsabilidade com a comunidade. Presença da SPPCV nos meios de comunicação e redes sociais, para prevenção e esclarecimento de patologias da coluna que afetam diariamente todos nós. Refiro-me por exemplo a temas como o diagnóstico precoce das escolioses, a utilização de mochilas nas escolas, os traumatismos vertebromedulares relacionados com mergulhos, acidentes de viação ou domésticos ou ainda ao que fazer quando temos diagnósticos tão comuns como as hérnias discais. Temos ainda um conjunto de efemérides que se realizam anualmente, como o Dia Mundial da Atividade física, Dia Mundial do Cérebro, Dia Internacional da Juventude, Dia Internacional das Lesões na Coluna Vertebral e o Dia Mundial da Coluna, nos quais estaremos presentes com artigos e entrevistas.
- Responsabilidade científica. Em Maio de 2025 estamos na organização do Congresso da SILACO (Sociedade Iberolatino-americana da Coluna) e em 2026 o Congresso anual da SPPCV. Temos ainda prevista a realização de dois “Webinars” e dois Seminários no 2º semestre de 2025 e 2026. Contamos ainda estar presentes no programa científico dos congressos anuais da SPN e da SPOT. A patologia da coluna é interdisciplinar e estaremos sempre presentes a apoiar todas as iniciativas realizadas por outras sociedades ou associações científicas.
- Finalmente, a possibilidade de enfatizar a figura do cirurgião de coluna, oriundo da ortopedia ou da neurocirurgia, como alguém dedicado em pleno a esta patologia e com capacidade técnico-científica para tratar estes problemas. Queremos estar na vanguarda da formação da Subespecialidade/Competência em Cirurgia da Coluna na Ordem dos Médicos.
HN – De que forma a SPPCV planeia estimular a investigação científica e a inovação no tratamento de patologias da coluna vertebral em Portugal?
NC – A SPPCV criou uma Bolsa de Investigação na área da patologia da coluna vertebral. O projeto vencedor recebe um prémio no valor de cinco mil euros. Esta bolsa tem como propósito distinguir investigadores que apresentem um projeto original de investigação básica relacionado com a patologia da coluna vertebral, sendo a avaliação baseada na inovação da proposta e no seu potencial impacto na prática clínica ou na saúde pública.
HN – Que iniciativas educativas ou formativas serão implementadas para garantir a atualização contínua dos profissionais nesta área?
NC – Temos em primeira linha a atribuição do Diploma Ibérico. Trata-se duma iniciativa da SPPCV em conjunto com a GEER (Sociedade Espanhola da Coluna), com a chancela e, portanto, com o reconhecimento da Eurospine. Trata-se duma ferramenta importante para o currículo e reconhecimento de internos e jovens especialistas que se dedicam a esta área.
A SPPCV criou ainda bolsas de formação profissional. Todos os anos, são concedidas até duas bolsas, no montante individual de €2.500,00. Uma delas será atribuída a internos de formação específica e a outra a jovens especialistas profissional. O objetivo principal é incentivar o desenvolvimento profissional e a especialização dos seus membros em áreas técnicas ligadas à patologia da coluna vertebral. As bolsas visam apoiar financeiramente estágios de formação em instituições nacionais ou internacionais com expertise na área, sendo exigida uma duração mínima de um mês.
Por último está em curso a preparação do regulamento e identificação dos serviços no nosso País, para a criação de “fellowships”. Pretende-se que os interessados tenham uma experiência prática e científica em centros de referência nacionais
HN – Como será promovida a colaboração multidisciplinar entre neurocirurgiões, ortopedistas, fisiatras e outros especialistas para otimizar o tratamento dos doentes?
NC – Os congressos, simpósios e “webinars” têm nos seus programas científicos médicos que se dedicam à patologia da coluna. Faz pouco sentido falar em tumores e não termos oncologistas, fraturas vertebrais osteoporóticas e não termos reumatologistas ou neuroradiologistas, tratarmos cirurgicamente doentes com Parkinson e não termos neurologistas, ou de deformidades da coluna sem fisiatras. Estamos todos envolvidos, de forma pluridisciplinar, tendo como centro o doente. É esta consciencialização que torna a nossa Sociedade um espaço aberto de discussão e intervenção das várias áreas do saber médico.
HN – Que medidas concretas a sociedade propõe para aproximar o conhecimento científico da prática clínica, melhorando diretamente a qualidade de vida dos pacientes?
NC – A formação científica aliada à prática clínica fica bem evidenciada com as bolsas de formação profissional e os “fellowships”, tornando os médicos mais capazes de tratar a patologia da coluna. Para além disso, os serviços que vão acolher estas iniciativas têm de estar credenciados pela SPPCV, ou seja, são vistos como Centros de Referência para o tratamento da patologia da coluna. A divulgação destes Centros aliado à responsabilidade com a comunidade, conforme inicialmente referido, constituem pilares para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
HN – Qual é a visão da SPPCV para posicionar Portugal como referência internacional no campo da Medicina da coluna vertebral durante a sua liderança?
NC – A SPPCV faz parte da Eurospine e também integra a SILACO. Temos excelentes relações com a GEER, em que o resultado mais palpável é o Diploma Ibérico, no âmbito da Eurospine. Na SILACO, Portugal vai assumir a presidência de 2025-2027 por intermédio do Prof. Dr. Paulo Pereira. É o reconhecimento do trabalho realizado pelas direções anteriores e naturalmente do valor individual dos nossos médicos. Vamos assim estando presentes nos principais palcos científicos e construindo pontes para outras responsabilidades.
Entrevista MMM
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