A descoberta foi feita no âmbito de um estudo sobre “o potencial de valorização de quatro subprodutos dos setores florestal e agroalimentar no contexto de uma biorrefinaria, contribuindo assim para a bioeconomia”, afirma a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.
A bioeconomia, “conceito promovido em todo o mundo”, pretende “substituir recursos fósseis e encontrar novas estratégias para a gestão de resíduos”.
A biorrefinaria, refere a UC, consiste no aproveitamento total da biomassa, “produzindo produtos de valor acrescentado e/ou energia a partir de matérias-primas diversas”, isto é, visa aproveitar “tudo o que se extrai da natureza, reduzindo ao máximo o resíduo e sem causar estragos ecológicos”.
Os resíduos selecionados pela equipa de investigadores, liderada por António Portugal, do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), foram ramos e cepos de pinheiro, tomate em decomposição e águas residuais vinícolas, resíduos muito abundantes no país.
Portugal é um dos maiores produtores europeus de tomate, exemplifica a UC, recordando que “só em 2018 contou com 1,2 milhões de toneladas”, gerando elevados desperdícios, “designadamente em relação ao tomate em decomposição”.
Após uma “avaliação exaustiva das propriedades destes resíduos” (seguida de várias extrações de compostos obtidos por técnicas sustentáveis), os investigadores identificaram nos resíduos do pinheiro “a presença de substâncias com forte atividade antioxidante e um composto que tem potencial como repelente/inseticida”, relata a UC.
“Além de demonstrar que os quatro resíduos são promissores para a economia de base biológica portuguesa, a grande surpresa foi encontrar compostos com propriedades antioxidantes e repelentes nos cepos e ramos dos pinheiros, respetivamente”, revelam Marisa Gaspar e Mara Braga, investigadoras do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da FCTUC.
“Esses extratos com as propriedades antioxidantes podem ser incorporados em produtos de cosmética ou produtos alimentares e farmacêuticos”, sublinham.
A grande novidade deste projeto, destacam as investigadoras, é aproveitar estes subprodutos antes de se chegar à fase de produção de energia.
“Apesar de já existirem algumas biorrefinarias, essencialmente para a produção de biogás e bioetanol, ainda existem matérias-primas que não são exploradas, principalmente nas indústrias agrícola e florestal”, afirmam, citadas pela UC, Marisa Gaspar e Mara Braga.
Portanto, sintetizam, “o objetivo deste trabalho foi caracterizar quatro resíduos abundantes no país para analisar o seu potencial no contexto da biorrefinaria”.
A investigação foi realizada no âmbito do projeto “MultiBiorefinery - Multi-purpose strategies for broadband Agro-forest and fisheries by-products: a step forward for a truly integrated biorefinery”, inserido num consórcio de seis unidades de investigação liderado pela Universidade de Aveiro (UA).
O “MultiBiorefinery” visa desenvolver e utilizar estratégias multiusos e tecnologias inovadoras e sustentáveis, com recurso à biotecnologia industrial e à química verde, para valorizar subprodutos com a finalidade de avançar para uma biorrefinaria verdadeiramente integrada capaz de lidar com matérias-primas diversas.
O projeto teve financiamento do programa comunitário COMPETE 2020, no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica: Programas de Atividades Conjuntas.
A próxima fase da investigação, que teve início em 2016, vai centrar-se em explorar a possibilidade de desenvolver “filmes poliméricos comestíveis, isto é, revestir alimentos com embalagens comestíveis e biodegradáveis, por forma a substituir os plásticos atualmente usados para este fim”, adiantam Marisa Gaspar e Mara Braga.
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