24 de março de 2014 - 15h00
Uma equipa da Universidade de Aveiro (UA) desenvolveu um novo
método capaz de combater a resistência de estirpes bacterianas a vários
antibióticos. 

O método, designado por terapia fotodinâmica, tem vindo a ser testado no tratamento de esgotos hospitalares onde são frequentemente encontradas bactérias multirresistentes. Segundo os estudos realizados até agora, a nova técnica mostra ser bem mais eficiente que outras abordagens convencionais, lê-se numa nota de imprensa da UA. 
Bactérias periogosas para a saúde pública 
As estirpes de bactérias em causa, onde se incluem, entre outras, o Staphylococus aureus e Enterococus sp., podem ser causadoras de infeções simples ou sistémicas, infeções respiratórias ou intoxicações de difícil tratamento devido à sua resistência a vários antibióticos conhecidos. 
Apesar de serem mais frequentes nos efluentes hospitalares, também já foram também em estações de tratamento de águas residuais para onde aqueles acabam por ser conduzidos sem tratamento prévio.
A terapia fotodinâmica (PDI), método já usado no tratamento de certos tipos de cancro, está agora a ser testada por uma equipa multidisciplinar da UA no tratamento destes efluentes hospitalares. 
A técnica consiste na utilização de “fotossensibilizadores”, como porfirinas, ftalocianinas, clorinas e alguns corantes que, que absorvem luz visível, transferindo energia para moléculas ao seu redor, originando espécies reativas de oxigénio (ROS – reactive oxygen species) que são altamente citotóxicas provocando alteração nas biomoléculas (proteínas, lípidos e ácidos nucleicos) destes microrganismos patogénicos, levando à sua inativação.

Nenhum dos estudos realizados até agora mostrou ser possível desenvolver resistência bacteriana a este tipo de tratamento, indicando que este método produz efeitos irreversíveis nestes microrganismos.
Enquanto os antibióticos atuam sobre um constituinte celular específico, como uma chave encaixa numa fechadura, a PDI, através da ação dos ROS, atua sobre vários componentes celulares, como proteínas, lípidos e ácidos nucleicos. Uma das principais vantagens da PDI sobre os antibióticos convencionais é precisamente o facto de ser uma abordagem terapêutica considerada multialvo, o que torna improvável o desenvolvimento de resistência à terapia fotodinâmica.
Um dos artigos mais recentes deste estudo coordenado pela investigadora Adelaide Almeida, intitulado “Photodynamic inactivation of multidrug-resistant bacteria in hospital wastewaters:influence of residual antibiotics” foi publicado na revista Photochemical &Photobiological Sciences e selecionado para ser capa do próximo número. 
Este estudo indica que há vantagens em realizar o tratamento por terapia fotodinâmica ainda no efluente hospitalar onde existem, habitualmente, resíduos de antibióticos, possibilitando uma ação sinérgica, levando a uma maior eficiência de inativação das bactérias multirresistentes.
Nuno de Noronha/SAPO Saúde