A bolsa foi atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação a Pedro Leão, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), e o projeto, designado FattyCyanos - Incorporação e modificação de ácidos gordos em produtos naturais de cianobactérias, vai ser desenvolvido nos próximos cinco anos.

As cianobactérias sintetizem "mais produtos naturais do que aqueles que são conhecidos pela ciência, muitos dos quais incorporando ácidos gordos", no entanto, para os descobrir, é necessário recorrer a "novas estratégias, mais sofisticadas", disse à Lusa Pedro Leão.

Segundo o investigador, as cianobactérias incorporam ácidos gordos nos seus metabolitos (produtos resultantes do metabolismo de uma determinada molécula ou substância), tendo alguns deles funções estruturais (como os lípidos das membranas celulares) e outros funções especializadas, sendo estes últimos aqueles que interessam neste projeto.

"Estes compostos que incorporam ácidos gordos são capazes de penetrar nas membranas das células ou interagir com as superfícies celulares, sendo comum terem atividades antibacterianas, antivíricas ou antifúngicas", explicou.

Em busca de uma resposta para o cancro

As cianobactérias são também especialistas em utilizar diferentes enzimas para modificar os ácidos gordos de uma forma seletiva e eficiente" e "muitas dessas modificações não são ainda acessíveis à química orgânica convencional", havendo interesse nas áreas de catálise e biologia sintética em entender os mecanismos por trás dessas transformações.

Embora o objetivo principal do projeto não seja a criação de produtos, Pedro Leão acredita que os novos compostos de cianobactérias possam atuar nas ações anticancerígenas ou antimicrobianas.

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Para além disso, é possível que as enzimas que produzem estes compostos sirvam "de inspiração para que os químicos desenvolvam novos reagentes", podendo ainda ser aplicadas em micro-organismos capazes de sintetizar diferentes moléculas necessárias à atividade humana, como fármacos ou combustíveis, sem recurso à química tradicional.

Para a categoria da bolsa à qual concorreu Pedro Leão, a ‘Starting Grant', foram submetidas, em 2016, 2395 candidaturas, tendo sido financiadas 325. Os resultados de 2017 ainda não foram divulgados.

Pedro Leão, investigador no CIIMAR desde 2015, tem vindo a desenvolver um programa de investigação na área da química e biossíntese de produtos naturais, maioritariamente de origem marinha.

Realizou o mestrado e o doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, tendo efetuado, em 2009 e 2012, períodos de investigação na Universidade da Califórnia, nos (Estados Unidos), e, em 2014, estudos pós-doutorais, na Universidade de Harvard (Estados Unidos).

A equipa de investigação que desenvolverá este projeto será composta por Pedro Leão e por um investigador, dois estudantes de doutoramento e um técnico de laboratório, todos do CIIMAR.