A paixão pela medicina dentária foi algo que começou na infância?
Sim. Desde pequeno que eu quis ser médico dentista e depois também tive algumas boas influências que me levaram para este caminho.
Já nesta altura o que é que mais o fascinava neste mundo da medicina dentária?
Foi algo que sempre foi muito natural. Eu sentia que estava a seguir o meu propósito que era, de certa forma, cuidar dos outros e do sorriso dos outros. Sempre me senti bem a fazê-lo e, ao mesmo tempo, achava que faltavam conceitos na área da medicina dentária que cuidassem mais das pessoas e que pusessem o paciente no centro de toda a ação. A própria medicina, antigamente, era exatamente ao contrário: era centrada no médico. E, ultimamente, tem vindo a ser cada vez mais centrada no paciente, e tudo que nós fazemos é pelo paciente, não pelo médico.
Sou médico dentista, mas acredito muito que o nosso futuro passa pela medicina da longevidade
Em 2007 formou-se em Medicina Dentária, começou a trabalhar nesta área, mas também foi nesse ano em que fez uma viagem à Índia que viria a mudar a sua vida. O que motivou esta viagem?
Eu acabei o curso e comecei a trabalhar nos dois, três anos seguintes onde fazia aquilo que gostava e faço hoje em dia: a parte da reabilitação oral e de reconstruir sorrisos. Mas não sentia que fazia aquilo com a minha personalidade e com a minha identidade. Trabalhava em clínicas que eram muito fechadas, sem janelas, que davam o atendimento correto, mas depois não o aconchegavam, não tratavam da experiência. Por que é que um tratamento dentário ou tratamento médico tem de provocar uma má experiência à pessoa? E eu acho que é aí que nos podemos efetivamente diferenciar. Estava muito esgotado nessa altura, trabalhava muitas horas por semana, estava a começar a construir a minha vida, a minha carreira e fui para a Índia cerca de um mês. E dessa viagem saiu aquele que seria o conceito que me ia tirar daquele buraco, daquele consultório sem janelas, com uma má experiência para o paciente.
E foi durante esta viagem que nasceu a Clínica Hugo Madeira que deu os seus primeiros passos no LX Factory...
Quando cheguei a Lisboa, queria realmente marcar a minha posição na medicina dentária e foi aí que abri a minha clínica no LX Factory. E como estava tão, tão, tão quase sem ar, a clínica era num open space, em que os gabinetes eram cubos em acrílico só para não ter paredes. Era um espaço cheio de arte, cheio de verde e com tudo pensado ao pormenor para fazer com que a pessoa sentisse que não estava numa clínica dentária, mas que estava num espaço artístico, bonito, inovador e provocador. Tem graça porque, na altura, era difícil fazer este tipo de coisas. Como é que um jovem quase acabado de se formar consegue montar uma clínica dessas? Eu vendi tudo o que tinha, o carro e uma carrada de coisas, e abri a clínica assim do nada.
E investiu tudo naquele que era o seu sonho, não é?
Sim. Os meus pais não sabiam de nada e convidei-os para vir a uma festa que, depois, era a inauguração da clínica. [risos]
As pessoas querem é o tcharam, querem ser surpreendidas, querem o efeito 'uau'. Eu acho que, acima de tudo, é um trabalho bonito porque estamos a ajudar pessoas que realmente precisam
Que idade tinha?
Tinha 27.
E já nesta altura, de que forma é que a sua clínica que, apesar de agora estar num outro local manteve o mesmo nome, já se diferenciava daquilo que na altura as pessoas podiam encontrar nos consultórios tradicionais?
Claro que os nossos tratamentos, a nossa abordagem e a nossa forma de estar tem evoluído muito com o passar dos anos, mas a base sempre foi a base humana. No LX Factory já era uma clínica com todas as especialidades, desde a psicologia à nutrição passando pela cirurgia plástica. Ou seja, já na altura tentávamos olhar para o paciente como um todo. Mas eu acho que se é difícil os dentistas olharem para o resto do paciente, também não é fácil o paciente poder perceber que pode, numa clínica onde trata o seu sorriso, tratar do resto.
E como é que isso faz?
Atualmente é algo que eu ainda estou a perceber e estou a estudar porque vai muito mais além de fronteiras. Sou médico dentista, mas acredito muito que o nosso futuro passa pela medicina da longevidade. Estou neste momento a fazer uma pós-graduação, de um ano e meio, de longevidade e medicina integrativa, vou fazendo um curso aqui e acolá, vou aos congressos todos que posso de longevidade... Ou seja, também vou tentando estudar outras áreas e tentando ligar àquilo que faço como médico dentista com a medicina integrativa e com a medicina convencional, e tentar criar, no meio disto, a minha identidade sem ser completamente fundamentalista e, ao mesmo tempo, tentando dar o melhor tratamento aos nossos pacientes, sem dano.
O seu percurso também ficou marcado pela sua colaboração com o programa Casa Feliz da SIC. Como é que surgiu esta parceira?
Eu comecei na SIC talvez há 10 anos ou mais. Era muito miúdo e comecei neste tipo de programas com os extreme makeovers e também como opinion leader a falar sobre questões de medicina dentária e a tentar educar o público para a questão da higiene e saúde oral. Acho que tem sido um caminho bastante interessante para mostrar o que é que se pode fazer, como é que a medicina dentária está a evoluir, que os tratamentos já não são assim tão complicados como eram antigamente, que às vezes, num curto espaço, é possível termos uma grande mudança, falando de implantes, de facetas dentárias ou de aparelhos. Mesmo os meus colegas portugueses, que vivem em outras cidades do país, acabam por me agradecer porque conseguem na prática clínica deles fazer mais tratamentos porque, afinal, nós estamos a disseminar a palavra do que é boa medicina dentária. A maior parte dos casos que comunicamos são casos muito agressivos. Estamos a falar de televisão, e televisão também precisa de grandes mudanças.
Em termos de retorno, é muito interessante porque conseguimos pôr um paciente feliz de um momento para o outro
Precisa de impacto...
Sim, porque uma simples restauração não ia ter impacto nenhum num programa de televisão. As pessoas querem é o tcharam, querem ser surpreendidas, querem o efeito 'uau'. Eu acho que, acima de tudo, é um trabalho bonito porque estamos a ajudar pessoas que realmente precisam e que nunca teriam capacidade de o fazer de outra forma. Ou seja, juntamos aqui o facto de nós podermos mostrar a nossa arte, mas ao mesmo tempo também de fazer o bem. E, acima de tudo, quem nos vê, sente isso. É real, é muito autêntico, é algo que nos sai naturalmente e acho que vamos continuar a fazê-lo. Agora gostava também que percebessem que a Clínica Hugo Madeira não é só isso e que há aqui um universo muito maior. A Casa Feliz é uma união perfeita, mas depois temos muitas outras áreas que estão aqui ativas e em ebulição.
Qual o principal desafio em fazer um programa de televisão e uma extreme makeover?
O maior desafio é a manutenção do que é feito e os timings, porque temos um tempo muito reduzido. Não nos podemos esquecer que estamos a falar de um ser humano e que para chegar a uma situação complexa de perda de dentes e de má higiene oral, essa pessoa não vai mudar os seus hábitos de um dia para o outro. Então, como é que vamos motivar, educar e explicar que rotinas é que tem de começar a ter a partir de agora? Não só de higiene, mas a nível alimentar, a nível de estilo de vida e, aí, é que entra depois a nossa parte de life coach, de medicina integrativa e de saúde. Se eu for fazer um tratamento numa pessoa que tem doenças inflamatórias, diabetes ou hipertensão arterial, como é que tudo isso vai sobreviver? Esta pessoa vai conseguir manter este sorriso durante muito tempo? Por isso que é o momento televisivo eu até acho fácil porque o efeito é realmente estrondoso, mas manter estes sorrisos durante muito tempo, aí é que está a questão.
O nosso sorriso e o estado dos nossos dentes dizem muito sobre a nossa saúde. Considera que os portugueses estão consciencializados para a importância e impacto que a saúde oral tem na sua qualidade de vida? Que retrato é possível fazer a este respeito?
Gostava de dizer que, cada vez mais, estamos consciencializados para isso. Pouco a pouco, há uma melhoria no que diz respeito à nossa saúde oral, agora depende muito do grupo da população que estivermos a falar. Portugal é um dos países onde os casos de fim de linha são muito corriqueiros. Vamos para França, Suíça, Alemanha e não se vê este tipo de reabilitação todos os dias. Nós, praticamente todos os dias, temos reabilitações destas. Não podemos dizer que este tipo de reabilitação seja para pessoas de classe A. Isto acaba por ser para pessoas que passaram por vidas difíceis, que não tiveram a higiene oral que deviam, não tiveram educação para a saúde oral e que acabam por chegar muito precocemente a situações mais decadentes, e então aí, soluções mais drásticas, mas cujo resultado depois fica muito bonito.
Se conseguirmos combater uma inflamação a nível oral, estamos a pôr o nosso corpo a viver mais anos e a investir na nossa longevidade
E são transformações que podem demorar quanto tempo?
Acabam por ser casos em que a pessoa entra de manhã e sai ao fim do dia ou no dia seguinte, já com uns dentes provisórios novos. Já está com a cara diferente, com uma vida nova. Ou seja, em termos de retorno, é muito interessante porque conseguimos pôr um paciente feliz de um momento para o outro. O objetivo é que a pessoa nunca chegue a este ponto, e eu acredito que no futuro, vai haver cada vez menos este tipo de reabilitação. Vai ser um implante, uma coroa, uma faceta... O objetivo é que consigamos reduzir isso.
E quais os principais conselhos a reter para uma boa higiene e saúde oral?
A boca está ligada a tudo. Gostava mesmo que nós olhássemos para a boca como uma fonte de saúde. E não pedimos muito. Pedimos para ter uma boa rotina de higiene oral, para escovar os dentes pelo menos duas vezes por dia, para usar fio dentário e ter o mínimo cuidado com aquilo que comemos, porque acaba por ter um impacto direto ao nível das lesões de cáries e de inflamações. Ou seja, se conseguirmos combater uma inflamação a nível oral, estamos a pôr o nosso corpo a viver mais anos e a investir na nossa longevidade.
Quais são os procedimentos mais realizados por si em contexto de clínica?
Atualmente estou mais dedicado a primeiras consultas. Tento receber a maior parte dos pacientes que vêm à Clínica Hugo Madeira porque para mim é fundamental conhecer a pessoa, conhecer o seu problema para definir o melhor plano de tratamento para poder jogar com a medicina dentária integrativa, mas também para poder escolher a equipa clínica que vai acompanhar aquela pessoa e definir qual é o objetivo daquele tratamento. Depois, também estou muito dedicado à cirurgia de implantes e à parte das facetas dentárias.
Eu acho que o meu maior dom é a parte cirúrgica. É na cirurgia que encontro o meu playground
E o que é que mais gosta de fazer? Há algo que lhe dê mais gozo fazer ou que seja mais desafiante para si?
Eu acho que o meu maior dom é a parte cirúrgica. É na cirurgia que encontro o meu playground. Para mim, é algo que me sai diretamente dos dedos.
Em 15 anos de profissão acredito que já ter visto de tudo um pouco. Quais os casos desafiantes com que já lidou?
Há realmente muitos casos que marcaram estes 15 anos. E, às vezes, é quase como nos atores, onde não há grandes nem pequenos papéis. Nos pacientes, não há grandes nem pequenos casos porque muitas vezes uma mudança pequena causa o renascimento de uma nova pessoa. Depois também tem a ver com a forma como a pessoa olha para si própria e o impacto que aquela alteração tem na sua autoestima. Os casos de televisão são, sem dúvida, mudanças muito grandes e muito rápidas com um impacto muito positivo, mas os casos de facetas têm uma beleza muito natural. Hoje em dia não há praticamente desgaste dentário nas facetas, os tratamentos são biologicamente muito pouco invasivos e os resultados são incríveis. Nós olhamos para o final e nós próprios não percebemos que tivemos intervenção naquele caso. Acho que isso é a maior recompensa que podemos ter: olhar para um sorriso e ele estar tão natural e tão bem enquadrado, que sentimos que fizemos o trabalho certo.
Acho que isso é a maior recompensa que podemos ter: olhar para um sorriso e ele estar tão natural e tão bem enquadrado, que sentimos que fizemos o trabalho certo
E há sempre solução para os problemas dentários dos clientes que o procuram?
Eu diria que existe sempre algo a fazer. Uma coisa interessante é que, muitas vezes, para um único paciente, posso dar cinco planos de tratamento diferentes e esses cinco planos podem estar todos corretos. Depois vai depender muito da expectativa do paciente. Eu acredito que posso sempre dar um plano de tratamento adequado, pode é haver pacientes que tenham expectativas surreais, e aí não há nenhum plano de tratamento que possa dar que lá chegue.
Quando menciona expectativas surreais, está a falar do quê em concreto?
Eu diria que a nossa a autoimagem, a forma como nós nos vemos e que imaginamos que somos e que queremos ser, tem muito que se lhe diga. Muitas vezes há desfasamentos de realidade ao nível do que a pessoa quer atingir...
E daquilo que é exequível?
Sim. E o nosso papel também é trazer muitas vezes a pessoa à realidade e dizer que para determinado caso vamos ter estas possibilidades. Há pacientes que não são elegíveis para tratamento dentário porque estão com uma realidade muito alterada de si mesmo e, às vezes, isso é um problema. Isso acontece muito nas facetas: alguém que vem e quer o sorriso daquela atriz de Hollywood. Acontece muito. Há casos em que podemos embarcar nessa aventura, porque pedimos aos pacientes inspirações, mas tentamos fazer com que todos sejamos seres únicos e especiais. E não fazer um sorriso igual ao outro.
Há pacientes que não são elegíveis para tratamento dentário porque estão com uma realidade muito alterada de si mesmo. Isso acontece muito nas facetas: um paciente que vem e quer o sorriso daquela atriz de Hollywood
Porque acha que existe esta obsessão, quase irrealista, de quer copiar o sorriso de determinadas estrelas de Hollywood?
Eu diria que as janelas da vida dos outros está tão à nossa porta com as redes sociais, que as pessoas querem todas ser umas iguais às outras. Já se esqueceram que têm o próprio espelho, a sua individualidade e que podem ser bonitas sendo elas próprias. Acho que tem a ver com momentos da vida das pessoas, fases mais de insegurança que passam, mas que, acima de tudo, têm de ser acompanhadas até o momento em que são aceites e são ultrapassadas. E aqui no consultório também é o sítio para se falar sobre este tema e por isso é que falamos numa medicina integrativa, porque, às vezes, não podemos trabalhar aquele paciente sem o apoio do departamento de saúde mental. Por isso é importante estarmos todos no mesmo espaço.
Quando a equipa responsável não concorda com a visão do cliente, o vosso papel passa por fazer esse tipo de acompanhamento e fazê-lo perceber que aquele não é o caminho a seguir...
Em casos grandes de facetas e implantes, uma mudança de sorriso vai coincidir com uma mudança de imagem. E se a pessoa não está bem com ela própria, pode ter aqui algum choque com esta mudança de identidade. Não é muito comum, mas pode acontecer e estamos alerta para isso. Tem muito a ver com a parte da psicologia envolvida. Toda esta questão do sorriso, e tudo o que se faz aqui na Clínica Hugo Madeira é de pessoas para pessoas e a parte humana é, sem dúvida, aquela que mais prevalece. Temos de perceber que estamos a cuidar do outro.
Acredito que faz parte do meu propósito ligar a boca ao corpo, e que nós não podemos tratar um sorriso sem pensar no resto da saúde geral. Gostava, no futuro, de criar um conceito de medicina integrativa, que está no forno para já, e tratar o paciente como um todo
A Clínica Hugo Madeira celebrou o seu 15º. aniversário. Qual o balanço que faz da sua carreira profissional e onde se imagina daqui a 15 anos?
É uma pergunta para queijinho. [risos] Eu gostava de deixar uma marca no mundo da medicina dentária e do sorriso das pessoas. Olho para trás e já tenho comigo muitos sorrisos onde deixei uma parte de mim, e acho que acabam por compor um bom passado de carreira. Mas, acima de tudo, também sinto que isto acaba por ser o início: também me sinto jovem, também me sinto com força e energia para continuar a construir mais nesta parte da medicina dentária. Acredito, sem dúvida alguma, que faz parte do meu propósito ligar a boca ao corpo, e que nós não podemos tratar um sorriso sem pensar no resto da saúde geral. Gostava, no futuro, de criar um conceito de medicina integrativa, que está no forno para já, e tratar o paciente como um todo. Quem sabe se, a Clínica Hugo Madeira, não vai evoluir em breve para algo mais abrangente, e temos a parte da base, que é a prevenção e que é aquilo que todos nós precisamos.
E que novidades é que tem para breve? Sei que uma delas passa pela clínica GBT cujo primeiro espaço vai abrir portas ainda este ano.
Nós trabalhamos com uma técnica que se chama GBT, que é a Guided Biofilm Therapy, cujo objetivo é que o tratamento de higiene oral seja o menos invasivo possível e não seja aquela destartarização típica em que se acaba por riscar os dentes e causar algum dano na estrutura do esmalte dentário. É praticamente impossível sentir dor com este tipo de higiene oral. É uma experiência agradável que ao invés de seis em seis meses, pode ser feita de quatro em quatro porque não causa dano. Basicamente colocamos um corante na boca do paciente onde este consegue ver onde é que tem placa bacteriana e onde é que não está a insistir corretamente [durante a escovagem]. Ou seja, é conceito inovador na parte de higiene oral, muito didático e que gera muita motivação da parte dos pacientes. O que é que estamos a fazer? Como realmente acreditamos que esta é a base de toda a saúde oral, estamos a abrir um piso só com esta técnica. Como se chama GBT, vamos abrir a primeira GBT Clinic em setembro, que será uma parceria com uma marca suíça que deu nome a esta tecnologia, e à partida, até o fim do ano, abrirá outra perto de Lisboa. E daqui a 15 anos abrirão mais [risos].
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