O estudo BARI - Burden of Acute Respiratory Infections –, que analisou o impacto no serviço público de saúde das hospitalizações atribuíveis à gripe ao longo de 10 épocas gripais (2008/09-2017/18), conclui que o custo médio anual por doente é de 3.302 euros, um valor que aumenta com a idade, pois os mais velhos têm normalmente outras doenças associadas.

Nos doentes com idade inferior a 65 anos e com comorbilidades este valor é de 3.485 euros e nos sem outras doenças associadas é de 2.164 euros.

Já nas pessoas com mais de 65 anos com comorbilidades o custo médio anual chega aos 4.714 euros, enquanto na mesma idade, mas sem outras doenças, o valor se fica pelos 2.204 euros.

Ainda quanto aos encargos económicos da gripe para o SNS em hospitalizações, a investigação conclui que quase metade (47%) dos 3,9 milhões de euros anuais são relativos a doentes com idade igual ou superior a 65 anos.

O estudo vai ser hoje apresentado no Flu Summit Portugal, sob o tema “Gripe: Prevenção e Longevidade”, um evento organizado pelo jornal Expresso em parceria com a Sanofi Pasteur e que reúne vários especialistas para debater o impacto da gripe em Portugal, o valor da população sénior e a importância da prevenção na longevidade e saúde.

No total, o trabalho abrangeu 13.629 hospitalizações, mais de metade das quais (52%) em doentes com idade igual ou superior a 65 anos.

“Efetivamente há um custo individual, um custo para as famílias e há um custo para as economias que (…) não podem ser menosprezados”, disse à agência Lusa o cardiologista Carlos Rabaçal, um dos especialistas que participou no estudo.

Ao longo dos 10 anos analisados, a maior taxa de hospitalização foi observada na época gripal de 2017/18, dominada pelo vírus influenza B / Yamagata e que também registou o maior custo com internamentos: 8,6 milhões de euros, dos quais 65% relativos a população com idade igual ou superior 65 anos.

Esta faixa etária é também a mais afetada pela gripe, com uma taxa média de hospitalização por gripe (ou infeção pelo vírus influenza) de 26,5 por 100 mil habitantes - em comparação com 7,8 nas pessoas abaixo dos 65 anos - e uma taxa de mortalidade hospitalar por gripe de 9,5% (3,1% nas pessoas com menos de 65 anos).

Os dados indicam igualmente que a taxa de mortalidade hospitalar sobe para 9,9% nas pessoas que têm comorbilidades como doenças cardiovasculares ou doenças respiratórias.

Para ajudar a prevenir as doenças que podem surgir como consequência da gripe, os especialistas que participaram no estudo defendem uma aposta reforçada na vacinação, além da manutenção das medidas de proteção agora aplicadas por causa da pandemia (máscaras, higiene das mãos e distanciamento físico).

Citado em comunicado, o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro, vice-presidente da European Respiratory Society (ERS), considera que, “apesar do aumento da cobertura vacinal, ainda existe uma sobrecarga significativa de gripe na faixa etária a partir dos 65 anos, que regista mais hospitalizações e de maior duração”.

“A taxa de mortalidade também é superior às restantes faixas etárias, estando aumentada quando se conjugam comorbilidades crónicas, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, diabetes ou insuficiência renal”, afirmou.

O pneumologista sublinhou igualmente a importância de continuar a reforçar a cobertura vacinal, nomeadamente nas pessoas a partir dos 65 anos, sobretudo depois da presente época gripal demonstrar “um registo de gripe quase residual”, devido às medidas de isolamento, “levando a uma possível baixa de imunidade da população na próxima época gripal de 2021/22”.

A agência Lusa tentou junto da Direção-Geral da Saúde obter os dados referentes a esta época gripal, mas até ao momento não possível.